Grupo Tabligh Jamaat é movimento pacífico e não radical, dizem fontes da comunidade islâmica
Lisboa, 22 Jan (Lusa) - O Tabligh Jamaat, grupo a pretexto do qual terão entrado em Portugal dois alegados terroristas paquistaneses, é um dos maiores movimentos islâmicos do mundo, presente em Portugal desde 1979, e não radical, disseram à Lusa fontes da comunidade islâmica.
"O Tabligh Jamaat é um movimento islâmico tolerante e pacífico que já está implantado em Portugal há algum tempo e que, em termos de membros e aderentes, pode ser considerado hoje em dia o maior movimento islâmico no mundo", disse hoje à Lusa uma fonte da comunidade muçulmana em Portugal.
A comunicação social portuguesa refere-se hoje ao Tabligh Jamaat como um "grupo radical" islâmico que realiza reuniões em vários países do mundo e que, a pretexto de uma delas em Lisboa, terá possibilitado a entrada em Portugal de dois alegados terroristas paquistaneses entretanto detidos em Espanha.
No entanto, a fonte ouvida pela Lusa explicou que o movimento religioso Tabligh Jamaat, que está presente em Portugal aproximadamente desde 1979, tem como objectivo relembrar a prática do Islão e que reuniões entre os membros desta comunidade "são comuns, tanto na Europa como em Portugal".
"Tabligh significa `propagar` e Jamaat significa `grupo`. Trata-se de um movimento religioso pacífico e tolerante e ao qual qualquer pessoa se pode juntar", explicou.
"O facto de pessoas ligadas a este movimento terem vindo de fora para assistir e participar na reunião da comunidade que se realizou no passado mês de Maio em Lisboa é completamente normal", acrescentou.
A mesma fonte lembrou que esse tipo de reuniões têm acontecido em todos os países da Europa, a última da qual em Espanha, e que estas aconteceram sempre com o conhecimento das autoridades.
Porém, a fonte sublinhou que o termo `peregrinação`, - utilizado por alguns meios de comunicação para descrever a deslocação de membros desta comunidade a Lisboa - é "errado", porque "nenhum muçulmano vem como peregrino para Portugal, a peregrinação dos muçulmanos é apenas feita a Meca".
Apesar de afirmar que o Tabligh Jamaat não é um movimento radical, a mesma fonte considerou que, como em qualquer movimento ou organização, este pode ter "um ou outro elemento mais radical ou fanático", desdramatizando, no entanto, esta hipótese.
"Há muçulmanos que simpatizam com este movimento, outros que são membros activos e outros que se opõem e não se identificam com ele. Os `tablighis` que eu conheço estão bem integrados, trabalham normalmente e levam uma vida normal em Portugal", disse.
De acordo com a fonte, é preciso ver esta situação com prudência, uma vez que a falta de informação sobre esta comunidade poderá ter consequências negativas para os muçulmanos que vivem em Portugal.
Num artigo publicado na Revista Lusófona de Ciência das Religiões, em 2004, o actual presidente da comunidade islâmica de Lisboa, Abdool Karim Vakil, explica que o Tabligh Jamaat é um "movimento islâmico sunita criado nos anos vinte e trinta do século XX na Índia" e que representa "incontestavelmente a força de maior dinamização do Islão entre os muçulmanos em Portugal".
De acordo com o documento, os primeiros tablighis terão começado a estabelecer-se em Portugal por volta de 1979, mas a sua organização em grupo e actividades só começaram a adquirir visibilidade e dinâmica a partir de fins de 1981.
O Tabligh Jamaat é descrito por Abdool Karim Vakil como um "movimento religioso transnacional", lembrando que a presença desta comunidade em Portugal "indicia bem algumas dessas relações transnacionais", uma vez que a sua origem advêm dos muçulmanos que vieram de Moçambique e que tem origens indianas.
SK.
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