Guerra do Iraque levou ex-militares portugueses a reviver traumas-especialista

por Agência LUSA

A guerra do Iraque, iniciada em 2004, teve um efei to "muito importante" no ressurgimento de sintomas de stress pós-traumático em e x-combatentes portugueses, mais susceptíveis a este reviver porque também mais v elhos, sustentou hoje um especialista.

Horácio Firmino, presidente da Sociedade Portuguesa de Gerontopsiquiatria (APG), apresentou hoje em Lisboa um trabalho "inédito" de caracterização de caso s de stress pós-traumático em ex-combatentes das guerras coloniais portuguesas, realizado na Clínica de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HU C).

Durante a sua intervenção, no âmbito do Encontro Europeu de Gerontopsiquia tria, e em declarações posteriores à Agência Lusa, Horácio Firmino realçou que, a par das alterações psíquicas, as mudanças na vida da pessoa associados ao enve lhecimento podem contribuir quer para o reviver de situações de trauma, quer par a o agravamento de sintomas já existentes.

"O deixar a actividade profissional pode levar a que acontecimentos traumá ticos possam ressurgir, porque o espírito deixa de estar ocupado", exemplificou o especialista.

O estudo foi efectuado com 30 ex-combatentes portugueses do distrito de Co imbra, com idades entre os 55 e os 66 anos, e que fizeram a sua comissão de serv iço maioritariamente em Angola, durante mais de dois anos.

Metade dos pacientes analisados foram soldados durante a Guerra Colonial e 13 por cento desempenharam as funções de enfermeiro, sendo referidas como situa ções mais traumáticas vividas o caso de emboscadas e o assistir à morte de um co lega.

Os resultados indicam que 83 por cento dos casos de sintomas de stress pós -traumático nestes indivíduos têm evoluído no sentido do agravamento, tendo a Gu erra do Iraque (desencadeada por uma força internacional liderada pelos Estados Unidos) sido indicada pelos próprios como um motivo "muito importante" para esta situação.

Antes da intervenção de Horário Firmino, também o psiquiatra dos HUC João Monteiro Ferreira abordou o tema do trauma e do envelhecimento, lembrando que 10 ,9 por cento dos veteranos de guerra portugueses sofrem de stress pós-traumático e chamou a atenção para o impacto dos fenómenos de trauma na população nacional mais idosa.

Esta população "heterogénea" integra, além dos ex-combatentes, indivíduos que foram vítimas de violência interpessoal (violência doméstica ou abusos sexua is na infância), de agressões, assaltos e pessoas que imigraram para Portugal fu gindo a situações de guerra e violência nos seus países, enumerou o especialista .

"Embora a prevalência de um diagnóstico completo de stress pós-traumático seja hoje relativamente baixa em idosos, existem efeitos a longo termo da exposi ção a situações traumáticas que exigem tratamento e que vão exigir mais resposta aos serviços de saúde mental", alertou João Monteiro Ferreira.

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