Hospital de Valongo abre inquérito a queda de doente psiquiátrica pela janela

O director do Hospital de Valongo, José Luís Catarino, disse à agência Lusa que instaurou um processo de averiguações à queda de uma doente psiquiátrica da janela do quarto da unidade onde estava em isolamento.

Agência LUSA /

"Instaurei segunda-feira um processo de averiguações, com carácter de urgê ncia. A instrutora do processo já está em campo", disse José Luís Catarino, afir mando que o inquérito será "rápido" e levado "até às últimas consequências".

A mulher, de 31 anos, está em estado de coma no Hospital S. João, Porto, a pós ter caído sexta-feira à noite da janela do quarto do Hospital de Valongo, on de estava internada em tratamento psiquiátrico, disse à Lusa o pai.

João Pena acusou o Hospital de Valongo de "negligência", por ter fechado n um pequeno quarto com janela sem grades, num "primeiro andar elevado", uma doent e com problemas psiquiátricos.

A irmã da doente, Liliana Pena, psicóloga, referiu que a família quer que sejam "apuradas responsabilidades" no processo de averiguações, após o qual pode rá vir a apresentar queixa por negligência.

O caso passou-se sexta-feira, cerca das 21:30, quando a doente "tirou a ja nela de vidro" do quadro do Hospital de Valongo onde se encontrava, "rebentou a persiana" e tentou fugir, caindo de uma altura de cerca de "sete ou oito metros" , referiu o pai.

"Como não havia luz nesse dia [o temporal registado sexta-feira deixou sem electricidade muitas zonas do Minho e do Grande Porto], não terá reparado a que altura estava do chão", disse João Pena. "Partiu a bacia e uma perna, e parece que tem o fígado perfurado por uma c ostela. Foi operada domingo no Hospital S. João, onde está internada nos Cuidado s Intensivos, em coma e ligada a um ventilador", acrescentou.

Segundo o pai, a doente terá sido fechada no quarto depois de "algum desen tendimento com uma enfermeira".

Liliana Pena explicou que a sua irmã, casada e sem filhos, estava internad a no Hospital de Valongo desde dia 16, por vontade própria e não compulsivamente .

"Era o primeiro internamento dela", disse, acrescentando que a irmã sofria , já há algum tempo, de anorexia nervosa.

Liliana Pena frisou que alguém ou algum procedimento terá falhado, porque, se assim não fosse, o arrombamento da janela e a fuga teriam sido detectados no sistema de vídeo-vigilância do hospital, que abrange o quarto em causa.

O director do Hospital de Valongo disse à Lusa que o arrombamento da janel a foi "uma situação completamente improvável", dado que a doente "conseguiu dobr ar uma chapa de alumínio de quatro milímetros" e retirar um "vidro temperado, qu e nem a tiro parte".

"Não é uma janela que se possa abrir. Está sempre fechada e não tem manípu lo", salientou José Luís Catarino, afirmando que "a lei não permite que aquele s ítio possa ter grades".

José Luís Catarino explicou que a doente foi colocada "num quarto em isola mento" depois de ter "entrado numa fase de agitação, que, segundo o director de psiquiatria do hospital, é normal em casos como o dela", pelo que se recomenda q ue o paciente seja isolado.

O director confirmou que o quarto estava vigiado pelo sistema de vídeo-vig ilância do hospital, referindo que o inquérito vai apurar se o sistema estava a funcionar e se houve falhas de quem tinha a seu cargo a visualização dos monitor es.

"São muitos doentes ao mesmo tempo [abrangidos pela vídeo-vigilância]", af irmou, admitindo que cada quarto só esteja a ser vigiado "de vez em quando".

José Luís Catarino disse que se reuniu segunda-feira, na companhia do dire ctor de psiquiatria, com a família da doente, a quem pediu "desculpas por algum lapso que possa ter acontecido".

"É um caso muito difícil. Compreendo a família", salientou, explicando que o marido e os pais da doente não foram avisados da queda de imediato, porque "a primeira preocupação da enfermeira foi tratar da doente que estava a seu cargo" .

Sobre as queixas de Liliana Pena de recusa do hospital em mostrar o proces so clínico da irmã, José Luís Catarino referiu que a lei só permite que este doc umento seja divulgado a outro médico.


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