Hospital S. João realiza quinta-feira cirurgia ortopédica inédita em Portugal

Porto, 14 de Janeiro (Lusa) - O Hospital de S. João, no Porto, vai realizar quinta-feira uma cirurgia inédita em Portugal em termos ortopédicos, utilizando uma técnica que pode ser aplicada num joelho, tornozelo ou qualquer outra articulação.

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"É uma técnica que permite solucionar perdas de cartilagem que tem indicações específicas e muito precisas", disse hoje à Lusa Paulo Oliveira, o médico ortopedista que vai realizar esta intervenção pioneira.

Trata-se de uma técnica desenvolvida por uma empresa norte-americana, a Genzyme, em que é produzido um implante de cartilagem das próprias células de um doente (condrócitos autólogos), para tratar um defeito na cartilagem de uma articulação.

A cirurgia vai ser feita a Azevedo M., um empregado fabril de 23 anos, de Santo Tirso, que fez um traumatismo a jogar futebol com os amigos, na sequência do qual fez uma fractura no joelho direito.

Hoje, a conselho médico, Azevedo M. desloca-se com o apoio de canadianas.

A lesão ocorreu em Março ou Abril de 2008 e a vítima perdeu, segundo o médico, "uma porção de cartilagem da articulação, que por isso ficou solta dentro do joelho".

O doente, que não mostrou quis falar à Lusa, acabou por ser "referenciado" pelo Serviço de Ortopedia do Hospital de S. João.

Azevedo M., depois a exames subsidiários, foi submetido Novembro a uma colheita, por artroscopia, da sua própria cartilagem.

Nesse dia a amostra seguiu para a Dinamarca, país onde esta técnica foi pela primeira vez adoptada na Europa e onde a empresa norte-americana possui uma filial.

"O que ali fizeram, pura e simplesmente, foi um crescimento celular", resume Paulo Oliveira, explicando que este processo "demora entre cinco a seis semanas".

O implante chega ao Hospital de S. João quinta-feira de manhã e à tarde será aplicado no joelho direito de Azevedo M., numa operação com início marcado para as 14h00.

O ortopedista afirma que a intervenção deve ser efectuada rapidamente, "para assegurar que as células estão no seu máximo potencial".

"Assim tenho maiores probabilidade de ter sucesso", salientou Paulo Oliveira, acrescentando que a "taxa de sucesso oscila entre os 70 e os 80 por cento".

O cirurgião afirma que, com esta operação, orçada em cerca de 10 mil euros, o paciente vai ficar com "um nível de actividade física semelhante ao que tinha antes da lesão", o que "com os métodos clássicos não seria possível".

O especialista sustenta ainda que "se uma lesão destas for deixada sem qualquer tratamento evolui para uma artrose, a curto prazo, o que não só é doloroso mas também incapacitante para a actividade normal do dia-a-dia".

Com o tratamento a que vai ser submetido, "Azevedo M. pode voltar até a praticar o seu futebol", disse.

A técnica, denominada MACI (sigla inglesa), ou seja Implante Autólogo de Condrócitos em Matriz, destina-se a "indivíduos com idades até 45 anos".

"Com mais idade podem ocorrer problemas causados por alterações degenerativas associadas", frisou.

Paulo Oliveira, especialista desde 1997, fez "uma pré-formação" sobre este método cirúrgico na Alemanha, "a trabalhar com um colega que faz uma média de 200 intervenções por ano".

"Já tenho mais dois doentes aos quais será previsível aplicar esta técnica, também novos, com lesões que resultaram da prática desportiva", adiantou.

Azevedo M. terá de ficar inactivo durante cerca de seis meses para ser dado como apto. Para voltar a jogar futebol, eventualmente só daqui a um ano.

Uma das áreas mais beneficiadas por esta nova técnica é a "traumatologia desportiva", com destaque para as temidas "lesões do joelho".

AYM.


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