Não há uma estatística oficial sobre o número hospitais construídos, mas muitas capitais e cidades médias brasileiras têm até hoje unidades hospitalares fundados por imigrantes portugueses.

"Desde as santas casas, a construção desses hospitais foi fruto do inegável espírito de fraternidade do povo português", disse à agência Lusa o presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira de São Paulo, António de Almeida e Silva.

No Estado de São Paulo há hospitais em várias cidades do interior, como São José do Rio Preto, Campinas, Santos, Amparo, e na região metropolitana da capital, como Santo André e São Caetano.

Na capital, a Beneficência Portuguesa de São Paulo merece destaque, como o maior hospital privado da América do Sul, com mais de 1,5 milhões de utentes atendidos todos os anos.

Fundado 1859 por 118 portugueses, é actualmente um dos maiores complexos hospitalares do Brasil, com cinco edifícios, num total de 200 mil metros quadrados de área construída.

Todos os dias mais de 15.000 pessoas passam pelo complexo da Beneficência Portugal, situado no bairro de Bela Vista, região que concentra grande número de hospitais em São Paulo.

Na cidade de Santos, a 90 quilómetros de São Paulo, no litoral do Estado, o Hospital da Beneficência começou a funcionar em 1889.

No mesmo ano, houve um surto de febre amarela na cidade, e a Beneficência ofereceu 50 camas para atendimento aos doentes, o que representava uma quantidade considerável para a época.

O desenvolvimento da cidade portuária de Santos resultou na necessidade de um hospital maior, cuja construção foi iniciada em Outubro de 1922. A unidade mantêm-se ainda hoje em funcionamento.

Iniciativa semelhante foi feita por imigrantes portugueses no Sul do Brasil, ao criar hospitais na capital Porto Alegre e também nas cidades de Rio Grande e Bagé, no Estado do Rio Grande do Sul.

A Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro, a mais antiga, fundada em 1840, atravessa actualmente uma grave crise financeira, devido a problemas de administração, segundo disse fonte ligada à anterior gestão.

O hospital deixou de manter serviços de emergência, internamento e cirurgias, sendo que as instalações são ocupadas actualmente por quatro clínicas particulares especializadas em análises clínicas, diagnósticos por imagens, tratamento renal e oftalmológico.

Um dos maiores credores do hospital é o Governo português, devido a um empréstimo de cerca de 12 milhões de euros que data da altura da governação de Cavaco Silva.

Na região Nordeste do Brasil, destacam-se os hospitais portugueses em Salvador (Estado da Bahia) e em Recife (Estado de Pernambuco).

Criado em Setembro de 1866, o Hospital Português da Bahia, localizado na região central de Salvador, passou por inúmeras ampliações ao longo de sua história para tornar-se um dos mais modernos centros médicos do país.

Recentemente, o hospital foi a primeira instituição de saúde de toda a América do Sul a conquistar o prémio concedido pelo Congresso Anual da Sociedade Americana de Medicina Intensiva.

O galardão foi entregue a uma equipa da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Português, que se mostrou bastante eficaz na redução de complicações e mortalidade em pacientes graves.

A cidade de Recife é actualmente o maior pólo hospitalar de todo a região Norte e Nordeste, com dezenas de hospitais, sendo que o maior deles em área construída é o Real Hospital Português.

O hospital foi criado em 1855 pela comunidade portuguesa para tratar os doentes de uma grande epidemia de cólera que se espalhava por todo o Brasil e matava mais de 100 pessoas por dia.

A comunidade portuguesa de Pernambuco doava dinheiro e objectos para a manutenção do hospital, onde todos os pacientes eram atendidos gratuitamente.

Actualmente, o Real Hospital Português é referência quando se fala em tecnologia a serviço da saúde, com mais de 50 clínicas especializadas em diversas áreas médicas e 550 camas.

O hospital oferece atendimentos de emergência em cardiologia, oftalmologia, obstetrícia, pediatria, traumatologia, ortopedia, neurologia e transporte de pacientes em unidades móveis de tratamento intensivo.

De acordo com o Memorial do Imigrante de São Paulo, chegaram ao Brasil 1.662.180 portugueses entre 1872 e 1972, o que representou cerca de um terço do total de imigrantes que o país recebeu no período.

O auge da imigração portuguesa foi registado entre 1910 a 1919, quando 318.481 portugueses chegaram ao Brasil.

Na década de 20, a população brasileira era de 30 milhões de habitantes, sendo 565.961 estrangeiros, 433.567 dos quais de origem portuguesa.

O primeiro-ministro português, José Sócrates, inicia terça- feira uma visita de quatro dias ao Brasil, durante a qual manterá contactos com a comunidade portuguesa residente neste país, nomeadamente no Rio de Janeiro.