Incêndios de outubro. Um ano depois do "pior dia de 2017"

Passa esta segunda-feira um ano desde o dia em que uma vaga de incêndios florestais fez 50 vítimas mortais e largas dezenas de feridos. Quase 500 ignições que destruíram total ou parcialmente cerca de 1500 casas e mais de 500 empresas. Reunimos aqui um conjunto de reportagens que assinalam a data.

 O incêndio de 15 de outubro do ano passado afetou mais de uma centena de empresas em Oliveira do Hospital. O fogo arrasou pavilhões, parques de máquinas e viaturas.

Muitas empresas fizeram das fraquezas forças e voltaram a funcionar. A RTP foi ao terreno falar com alguns proprientários afetados pelos incêndios, que revelam as dificuldades de voltar a reerguer o negócio apesar dos esforços financeiros e pessoais.

"Um cenário de guerra em que não foram precisas bombas"

"Impotência e desilusão" são os sentimentos que ainda hoje assombram os Bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, no concelho de Tábua. No terreno ainda estão bem presentes as marcas da passagem do fogo de há um ano. Os incêndios de outubro provocaram 50 vítimas mortais e cerca de 70 feridos. Dos 220 mil hectares de território ardido, cerca de 190 mil foi em ambiente florestal, destruído 1500 casas e mais de meio milhar de empresas.

"Um cenário de guerra", diz Vitor Hugo Melo, presidente dos bombeiros. Casas apenas com as paredes de pé e muito do que existia destruido como se uma bomba ali tivesse caido. Para Vitor Hugo Melo este cenário ainda deixa muitas respostas para dar.

No dia 15 de outubro os bombeiros de Oliveirinha foram chamados para ajudar a combater um incêndio noutro concelho. Sem comunicações ou possibilidade de transitar nas estradas, não conseguiram passar para ajudar a combater o incêndio que queimou mais de 85 por cento do concelho. Perderam colegas e até as próprias casas.

Momentos de "calvário"

Quem da região de Treixedo e Nagosela recorda a noite de 15 de outubro fá-lo com lágrimas e com um sentimento de perda total do passado ali construído. Aos poucos a reconstrução vai dando origem a novas paredes que vão abrigar o que resta da vida perdida por centenas de habitantes da região. Criada uma Comissão Técnica Independente, esta deu conta que as mais 500 ignições registadas entre 14 e 16 de outubro de 2017 foram provocadas pela conjugação de fatores meteorológicos, mas a CTI informa que também houve falhas na programação de socorro e nas comunicações.

Armando Roque ainda guarda as palavras quando recorda o que teve de passar depois de o fogo lhe ter destruído o que ergueu. "Eu sentia-me humilhado por estarem a dar-me um ou dois quilos de arroz, (...) aceitava por que precisava daquilo. E isso foi das partes mais dificeis... foi isso".

Foram centenas que viram a vida a fugir por entre as chamas. Mas houve que quisesse ajudar. Foi o caso de quatro casais que criaram, em Santa Comba Dão, a Associação Unidos por Treixedo e Nagosela para apoiar todas as vítimas das povoações da União de Freguesias.

A Associação angariou cerca de 14 mil euros em iniciativas solidárias, através de iniciativas locais tais como uma caminhada e um almoço-convívio com mais de 300 pessoas, confecionado por quatro reputados chefs da gastronomia portuguesa. Para além do dinheiro, a instituição recebeu donativos de todo o país, mobiliário, calçado, roupa e bens alimentares.

Um esforço solidário que ajuda, mas não anula a dor e a perda de toda uma vida construída pelos habitantes de Treixedo e Nagosela.


A RTP foi também ouvir o testemunho de de José e Otília, um casal de reformados está há um ano à espera das obras na casa de primeira habitação.

O fogo levou-lhes tudo depois de anos de trabalho fora do país.


Após o “pior dia do ano”, o Governo mandou criar uma Comissão Técnica Independente (CTI) que veio dar conta que grande parte das mais de 500 ignições registadas entre 14 e 16 de outubro de 2017 em Portugal Continental foram provocadas pela conjugação de fatores meteorológicos, mas a CTI dá também conta que conta houve falhas na programação de socorro e nas comunicações.


No relatório entregue pela comissão na Assembleia da República pode ler-se que falhou a capacidade de "previsão e programação" para "minimizar a extensão" do fogo na região Centro, face às previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento para os dias em que ocorreram.


Incêndios devastadores que originaram 50 vítimas mortais e cerca de 70 feridos. Dos 220 mil hectares de território atingido, cerca de 190 mil arderam em ambiente florestal.