Inspeção à "Estrada da morte" antes do incêndio não viu problemas

por RTP

A Infraestruturas de Portugal inspecionou a Nacional 236 dias antes do incêndio de Pedrógão Grande. A empresa afirmou que não encontrou vegetação ou mato por limpar. Nessa estrada morreram 47 pessoas.

"Eu sou um sobrevivente daquele monte que esteve aqui, de carros, que aqui arderam. E onde morreu muita gente. Estive aqui no meio disto, consegui virar e fugir". Armando e Isabel conseguiram escapar às chamas na Estrada Nacional 236, em Pedrógão Grande.

Mas a história do dia 17 de junho de 2017 ficou para sempre marcada pela morte de dezenas de pessoas que ficaram encurraladas.

Vários relatórios e conclusões se seguiram. Todos referiam um descuido na limpeza do troço de estrada.

Mas um relatório da Infraestruturas de Portugal que a RTP consultou concluiu exactamente o contrário. Não encontrou vegetação ou mato por limpar dias antes do incêndio.

Um documento que preocupa Xavier Viegas, especialista em incêndios florestais. "Fiquei apreensivo", disse à RTP. "É claro que não podemos pretender que as faixas ao longo das estradas estejam todas limpas como se fosse um jardim". Mas, acrescenta, "ignorar esse risco é no mínimo negligência e falta de ética".

A empresa pública, responsável pela fiscalização das estradas, esteve na 236 no dia 8 de junho de 2017.

A inspeção foi feita uma semana antes da tragédia mas fechada já depois do incêndio, no dia 21 de junho. Revelava algumas situações não conformes, mas nada sobre a falta de limpeza que o Ministério Público defende ter existido.

"Isto é um relatório muito parcial", diz Xavier Viegas. "É um relatório que olha para a questão da rodovia do ponto de vista de gestor da rodovia".

A Infraestruturas de Portugal assegura que apenas tinha de fiscalizar o que estava a ser feito pela Ascendi e não o cumprimento da legislação para prevenir incêndios florestais.

Diz a empresa que "no dia da vistoria, 8 de junho de 2017, as obrigações no que se refere à manutenção vegetal estavam cumpridas no âmbito do Contrato de Subconcessão".

Este relatório foi apresentado em tribunal por um dos funcionário da Ascendi que é arguido no processo de Pedrogão Grande, acusado de 34 crimes de homicídio por negligência.
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