Instituto de Apoio à Criança reclama "alojamento digno" após demolições em Loures
O Instituto de Apoio à Criança (IAC) apelou hoje às entidades competentes para que garantam "alojamento digno" urgente às pessoas, em particular crianças, que ficaram sem teto depois da demolição em Loures das barracas onde viviam.
"Perante relatos de famílias sem alternativa habitacional imediata, o IAC apela às entidades competentes para que sejam asseguradas, com caráter de urgência, respostas de alojamento digno", refere um comunicado da instituição.
Segundo o IAC, "as situações que envolvem retiradas forçadas de crianças e famílias das suas habitações, sem soluções prévias de realojamento dignas, levantam sérias questões em matéria de direitos fundamentais e do superior interesse da criança, consagrado na Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada por Portugal".
O IAC sublinha que "a Convenção sobre os Direitos da Criança e a Declaração Universal dos Direitos da Criança reconhecem o direito à habitação como um componente essencial para o desenvolvimento saudável e o bem-estar de todas as crianças, sendo dever do Estado e das autarquias prevenir situações de desproteção, exclusão ou risco".
"Estas situações são indignas e afetam diretamente o bem-estar, a segurança e as oportunidades de desenvolvimento destas crianças, o que não é admissível", sustentou o IAC, numa alusão às demolições em Loures, assinalando que "o superior interesse da criança deve ser sempre prioridade em qualquer decisão ou intervenção".
A autarquia de Loures iniciou na segunda-feira uma operação de demolição de 64 barracas, onde vivem 161 pessoas, no Bairro do Talude Militar.
De acordo com o município, no primeiro dia foram demolidas 51 construções, tendo as operações prosseguido hoje, às primeiras horas da manhã.
Posteriormente, a Câmara de Loures suspendeu as operações para analisar o despacho do Tribunal Administrativo de Lisboa, com data de segunda-feira à noite, que decretou que a autarquia fica "impedida de executar o ato de demolição" no Bairro do Talude Militar.
A decisão do tribunal surgiu na sequência de uma providência cautelar interposta por uma advogada em representação de 14 moradores do bairro.
Na segunda-feira, as famílias desalojadas pernoitaram em tendas e numa igreja, segundo o movimento Vida Justa, que se apresenta como "a plataforma que dá voz aos bairros".
Hoje, o município de Loures, que aconselhou as famílias a deslocarem-se aos serviços sociais na Casa da Cultura, em Sacavém, e a solicitar apoios, anunciou que uma das famílias "foi encaminhada para um centro de acolhimento" e outras duas "para uma unidade hoteleira".
De acordo com fonte da autarquia, "foram disponibilizadas alternativas habitacionais no mercado de arrendamento, com possibilidade de apoio financeiro à caução e à primeira renda".
Para o movimento Vida Justa, trata-se de um "não apoio", uma vez que os moradores não irão conseguir aceder ao mercado da habitação.
O Instituto de Apoio à Criança pede "uma avaliação técnica e social rigorosa" dos casos e "soluções integradas, em articulação com os serviços públicos e as organizações da sociedade civil".
Na Amadora foram também demolidas algumas construções ilegais no antigo Bairro de Santa Filomena.