"Inventor" de bicicleta com 65 lugares tenta sábado entrar no Guinness
Um pedreiro de Ferreira do Alentejo construiu uma bicicleta para 65 ocupantes com 45 metros de comprimento e vai tentar bater o recorde do Guinness para o veículo a pedal com maior número de lugares.
A iniciativa, integrada nas comemorações do feriado municipal de Ferreira do Alentejo, está marcada para as 11:30 de sábado, num percurso na vila, entre o Largo Vivião Maldonado Passanha (conhecido localmente como "Ferrinho de Engomar") e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, com a extensão de 910 metros.
Em declarações à agência Lusa, Vítor Marques, pedreiro reformado, de 65 anos, mostrou-se hoje esperançado de que a sua máquina funcione, o que a tornará no novo "gigante das estradas".
"Uma vez, li numa revista de ciclismo que um americano, a quem puseram o título de gigante das estradas, tinha batido o recorde com uma bicicleta com 55 lugares. Ora, veio-me logo a ideia de fazer uma maior e chamar a mim essa designação", confessa.
Uma ideia que levou cerca de dois anos e meio a ser concretizada, tempo que demorou a construção da bicicleta, a qual teve de ser equipada com 65 lugares porque, entretanto, o recorde do Guinness passou a ser detido por um outro veículo a pedal para 62 pessoas.
"É um veículo maior do que o meu. Tem 90 metros de comprimento, porque os autores colocaram varões a ligar as várias bicicletas, e o meu tem 45 metros, já que as bicicletas encaixam todas entre si", afirma.
Na prática, o "invento" deste homem natural de Grândola e residente na aldeia do Torrão, Ferreira do Alentejo, consiste em várias bicicletas acopladas entre si, das quais apenas a primeira, a que designa de "mestra", é que possui as duas rodas e direcção.
"Liguei-as em fileiras de três, umas ao lado das outras, por aí fora até fazer os 65 lugares. A primeira é que permite controlar a direcção e as outras vão para o mesmo sentido, porque não têm roda da frente", conta.
No sábado, durante a tentativa de recorde, a bicicleta "mestra" vai ser conduzida por um sobrinho, enquanto que Vítor Marques vai pedalar, juntamente com jovens da vila - "Para velho basto eu", diz -, numa das bicicletas do meio, para "controlar as operações".
"Cá atrás vejo melhor se falha alguma coisa e se é preciso substituir, de emergência, alguma das bicicletas", esclarece o autor, que confessa ter tido, desde sempre, "uma doença pelas bicicletas e pelo ciclismo".
Uma paixão que, além do invento mais recente, já o levou a tentar quebrar, aos 26 anos, o recorde de maior número de horas seguidas a pedalar, em voltas sucessivas ao Campo Pequeno, em Lisboa.
"Falhei esse intento, com muita pena minha, porque, depois de cem horas a pedalar sem parar, de dia e de noite, só a beber líquidos, senti-me mal, desmaiei e fui parar ao hospital. Só não quebrei o recorde por cinco horas...", relata, com o desânimo ainda a pesar-lhe na voz, passados tantos anos.
Ao emigrar para o Luxemburgo, há mais de 30 anos atrás, também não escolheu uma forma convencional de transporte e, por isso, pegou na sua bicicleta e demorou 12 dias a chegar ao novo país de acolhimento: "Veja lá que, há cinco anos, quando regressei, novamente de bicicleta, demorei menos dois dias na viagem".
Nos últimos anos, mercê do trabalho de construção da bicicleta, foi obrigado a abdicar mais dos seus passeios de cicloturismo: "Levei o tempo quase todo de volta do veículo, feito com bicicletas compradas nos ferros-velhos e com outras que as pessoas me iam dando, desde Grândola até à Vidigueira".
Agora, Vítor Marques "faz figas" para que o seu "invento", que vai ter de ser transportado para a sede de concelho em três carrinhas, com seis metros de comprimento cada uma, consiga "pedalar" sem problemas, no sábado, até à "linha de chegada".
E, embora ainda não ostente o tão almejado título de "gigante das estradas", Vítor já pensa no próximo desafio: "Construir uma bicicleta que anda sem as rodas tocarem no chão. Mas, esse invento ainda está no `segredo dos deuses`. Há-de ver a `luz do dia` quando calhar...".