Investigadora da U. Coimbra diz que há "uma violência endémica grave" contra as mulheres

Coimbra, 09 Mar (Lusa) - A violência contra as mulheres ganhou visibilidade nos media nas últimas décadas, sobretudo nos casos extremos como o homicídio, mas existe "uma violência endémica" grave que continua na obscuridade - segundo um livro a lançar segunda-feira em Coimbra.

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"A violência contra as mulheres não são só os homicídios. Há uma violência endémica contínua, em que se incluem os maus-tratos psicológicos, que fica completamente na obscuridade, apesar de causar milhares de vítimas", disse hoje a autora, Rita Basílio de Simões, à agência Lusa.

Intitulado "A Violência contra as Mulheres nos Media: Lutas de Género no Discurso das Notícias (1975-2002)", o livro de Rita Basílio de Simões "traça o retrato da cobertura noticiosa do tema ao longo de três décadas de história da imprensa diária portuguesa" - segundo uma nota da FNAC Coimbra, onde a obra é apresentada.

O livro, que resulta da dissertação de mestrado em Comunicação e Jornalismo apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (UC), analisa as notícias sobre esta temática publicadas no Diário de Notícias entre 1975 e 2002 e no Correio da Manhã durante o ano de 2002.

Outra das conclusões a que a jornalista chegou é a de que "a construção noticiosa da violência contra as mulheres assenta em um repertório de incidentes isolados, baseados nas circunstâncias particulares dos agentes envolvidos, sendo, em geral, pobres os horizontes de sociabilidade contidos nesses discursos".

"Desse repertório de notícias sobre violência são sistematicamente excluídos aspectos relacionados com a diferença de poder social entre sexos, bem como com a aparente incapacidade política para a erradicar, apesar da intervenção jurídico-institucional", escreve Rita Basílio de Simões na conclusão do estudo.

De acordo com a autora, verifica-se também "uma certa tendência para desresponsabilizar o agressor" nas notícias analisadas.

Na perspectiva de Rita Basílio de Simões, é importante a diversificação das fontes de informação, "para uma melhor compreensão da problemática e do seu impacto na sociedade".

A eleição de formatos jornalísticos mais interpretativos e o recurso a vozes alternativas, nomeadamente de mulheres sobreviventes, são outras das medidas preconizadas pela autora, que prossegue agora o seu projecto de doutoramento na UC votado, na mesma linha de investigação do mestrado, à compreensão do papel dos media na sociedade.

O livro é apresentado, segunda-feira pelas 18:00 na Fnac Coimbra, por Elza Pais, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e da Estrutura de Missão contra a Violência Doméstica.

MCS


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