O trabalho resulta de uma parceria entre a UAveiro, o Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga (CHEDV-Santa Maria da Feira), o Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV-Aveiro), o Centro Médico da Praça de São João da Madeira e a empresa nacional de engenharia de plásticos Muroplás, especializada no setor médico-hospitalar e com sede na Trofa, que fornece os tubos de recolha da amostra da saliva.
Artur Manuel Silva afirma que, para obter a certificação dos testes agora em ensaio, foram realizados ensaios com recurso a zaragatoa e ao líquido da saliva dos mesmos pacientes.
O novo teste elimina o desconforto e a pesada logística da colheita de amostras com zaragatoa. Utiliza a robusta tecnologia de RT-PCR existente nos laboratórios nacionais, simplifica a automação dos processos laboratoriais, baixa o custo e facilita a testagem comunitária (lares, escolas, empresas, etc.).
A saliva é o principal veículo de transmissão do SARS-COV-2 e as máscaras que se usa servem para impedir a transmissão através de gotículas líquidas ou humidade que existe na respiração e que transporta saliva.
Sendo a saliva um forte elemento transmissor, é importante para os investigadores utilizarem este produto fisiológico como fonte primordial de análise.
A saliva, como é facilmente extraída, torna a sua colheita de fácil execução no domicílio ou no local de trabalho sem recurso a profissionais de saúde.
Mas se é assim tão fácil, porquê que os testes não são realizado através da saliva em vez das incómodas zaragatoas?
Manuel Silva Santos, biomédico e coordenador deste projeto de investigação colaborativa da UAveiro, diz que “de facto a saliva tem alguns problemas, principalmente relacionados com a inibição com as reacções do PCR, do teste normal do rastreio, e portanto foi necessário contornar esses problemas. Um dos problemas tem a ver com a viscosidade da saliva, pois é muito rico em proteínas e isso entrava em conflito com as reacções de PCR”.
Numa abordagem inicial os resultados dos testes com saliva mostraram que eram menos sensíveis do que os obtidos com colheitas por zaragatoa nasofaríngea, mas após ajustes no protocolo técnico, confirmou-se que a saliva pode igualmente ser usada na deteção de SARS-CoV-2 sem perda de sensibilidade.
“A cuspideira”
Recolher uma amostra de saliva, através de uma zaragatoa, pode mostrar-se menos ineficaz visto que a amostra recolhida pode conter uma carga viral muito pequena, gerando por vezes falsos negativos.
Com a colaboração do CHEDV, CHBV e Centro Médico da Praça, foi validado um novo método de RT-PCR altamente sensível e reprodutível, que permite testar em paralelo um grande número de amostras de saliva a baixo custo, chegando mesmo a reduzir o atual valor do teste da zaragatoa, que se situa nos 65 euros e que com este tipo de teste, que pode ser analisado em grupo. O valor unitário está abaixo dos 10 euros, refere Manuel Silva Santos, coordenador do projecto.
Este novo método já foi validado pela autoridade reguladora da saúde dos Estados Unidos da América - Food and Drug Administration (FDA) – que aprovou o uso de kits de saliva para a testagem de SARS-CoV-2 e vários laboratórios Europeus já os usam na rotina de testagem.
Exemplo do tubo de recolha da amostra da saliva/DR
Para além das vacinas, os rastreios comunitários em larga escala, acompanhados de quarentena seletiva dos casos positivos são a única estratégia de controlo efetivo da Covid-19, sem confinamento da população.
Contudo, a complexidade e os elevados custos envolvidos, em particular a necessidade de treinar e mobilizar profissionais de saúde para a testagem com zaragatoas, bem como os gastos associados a material de proteção individual, criam constrangimentos significativos à massificação dos rastreios.
Certificação INSA - Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge
Os testes e dados efectuados e recolhidos com este método, apresentado pelos departamento laboratorial de Medicina do Genoma do Instituto de Biomedicina (iBiMED) da Universidade de Aveiro, vão ser enviados agora para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), nas próximas duas semanas, onde Artur Silva, vice-reitor da Investigação e presidente do Conselho Cientifico, espera obter autorização para dar “luz verde” à produção em massa deste teste ao serviço da população portuguesa.