João Amaral homenageado em sessão marcada por críticas à direcção do PCP
O antigo deputado comunista João Amaral foi hoje homenageado como um "brilhante parlamentar" no lançamento de um livro com testemunhos de várias personalidades da política portuguesa, numa sessão marcada por "farpas" à actual direcção do PCP.
O livro, "In Memorian", editado pela D. Quixote, inclui testemunhos do Presidente da República, Jorge Sampaio, do ex-líder da bancada comunista Octávio Teixeira, do deputado António Filipe, do também já falecido ex-dirigente Edgar Correia, do antigo presidente da Assembleia da República Almeida Santos e do deputado do CDS-PP Telmo Correia, entre outros.
Organizado pela viúva de João Amaral, Luísa Gueifão, a obra inclui uma intervenção no Comité Central do PCP de Junho de 2000, e outros textos inéditos, entre os quais um sobre "a crise do Parlamento português" e outro sobre "a mundialização e o combate político".
O ex-dirigente histórico comunista Carlos Brito, que se mantém "auto-suspenso" do PCP depois da sanção disciplinar decretada pela direcção do partido, fez a apresentação da obra, sugerindo ao presidente da Assembleia da República, presente na sessão, a colocação de um busto de João Amaral no Parlamento para homenagear "um brilhante parlamentar".
João Amaral protagonizou, com Carlos Brito e Edgar Correia, um movimento de comunistas que reclamavam uma renovação na orientação e na estratégia do PCP, num processo que culminou com a expulsão de alguns dirigentes e com a saída voluntária de muitos outros militantes, que formaram o movimento da Renovação Comunista.
Carlos Brito, que integra a Renovação Comunista, frisou que essa época "foi um período negro na história recente do PCP", do qual "João Amaral foi a primeira vítima".
A exclusão de João Amaral das listas do PCP à Assembleia da República nas eleições de 2002, numa altura em que o antigo deputado já se encontrava doente, foi, disse Carlos Brito, "uma revoltante decisão" e "um dos mais duros golpes que atingiram a sua sensibilidade de combatente".
Depois de agradecer os contributos das personalidades que conheceram e trabalharam com João Amaral, Luísa Gueifão manifestou a sua mágoa para com a direcção do PCP, afirmando que hoje também os actuais dirigentes se devem lembrar d o antigo militante, "mas com alívio".
Vários militantes comunistas estiveram no lançamento do livro, nos Paços do Concelhos, em Lisboa, entre os quais Octávio Teixeira, o deputado António Filipe, vários elementos do gabinete parlamentar do PCP, o secretário-geral da CG TP, Carvalho da Silva, o escritor Modesto Navarro, o antigo vereador de Lisboa Rui Godinho e o ex-presidente da câmara de Loures Adão Barata.
Em declarações aos jornalistas, Carvalho da Silva e António Filipe escu saram-se a falar das divergências que opuseram João Amaral à direcção do PCP, optando por destacar o seu trabalho como deputado e como sindicalista.
Questionado pelos jornalistas, Ruben de Carvalho, vereador comunista na Câmara de Lisboa, defendeu que foi "natural" o afastamento de João Amaral das listas nas eleições de 2002: "É natural em qualquer partido (...) tentar assegurar que a presença em órgãos institucionais represente as suas posições e orientações".
"Não é justo nem legítimo falar de injustiças para com João Amaral. O João Amaral travou uma batalha com plena consciência do que estava a fazer (...) ficou numa posição minoritária, foi um desenlace natural, que foi digno em relação a ele", acrescentou.
A sessão contou com a presença do Presidente da República, Jorge Sampaio, dos candidatos presidenciais Manuel Alegre e Francisco Louçã, do presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e do presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues.
João Amaral morreu a 10 de Janeiro de 2003, vítima de cancro. Enquanto deputado especializou-se nas áreas da defesa nacional e Europa, entre outros. Foi presidente da Assembleia Municipal de Lisboa.