Jovem casal decidiu "pegar nos livros de casa" e abrir um alfarrabista em Lisboa

No último mês, Júlia Oliveira cumpriu o sonho de abrir uma livraria, ao lado do namorado Luís Gonçalo. Fica no Bairro Alto, em Lisboa, e os dois - com 25 anos - querem conquistar leitores, mas também ter um espaço aberto à comunidade.

Gonçalo Costa Martins - Antena 1 /
Júlia Oliveira e Luís Gonçalo | Fotografias de Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Júlia cresceu no meio de livros. Os pais têm uma livraria alfarrabista - Armazém 111 - e a filha quis seguir as pisadas. “Quando pensei que precisava de um parceiro, pensei ‘Porque não a pessoa que está já ao meu lado, que é espetacular naquilo que faz e gosta tanto dos livros quanto eu?’”, recorda.

“Queríamos continuar esse legado, mas dando-lhe um toque mais jovem, mais da nossa geração”, afirma Luís.

Os dois têm 25 anos e vivem juntos. A juntar ao sonho, eram cada vez mais os livros que se acumulavam em casa, entre os seus e os da família. “Vou pegar nos livros de casa e vou abrir uma livraria”, comenta Júlia entre risos. 

A nova morada desses livros foi a Utopia 111, na Rua do Trombeta. Fica no Bairro Alto, em Lisboa, um bairro de bares abertos para o álcool durante a noite e que, quando acorda, está praticamente deserto. Por volta das 13 horas, quando a livraria abre, ouve-se pouco mais do que as vassouras das limpezas na rua.

A “verdadeira ação” volta no final do dia a partir das 17 horas, considera Luís, em que “a comunidade está a sair dos trabalhos, a voltar a casa”. A pensar nas “pessoas que vão jantar e que se vão preparar para sair à noite no Bairro Alto, questiona “porque não passar aqui na livraria”.

O jovem casal quer também que o espaço esteja ao serviço da comunidade, para ler, reunir-se e organizar eventos. 
Reportagem Antena 1 sobre novo alfarrabista no Bairro AltoDivulgar literatura nas redes sociais
Para entrar neste universo utópico literário, Júlia e Luís escolheram um conjunto de autores portugueses para dar as boas-vindas na entrada.

Logo à porta há um fio com vários retratos pendurados de escritores, só com autores portugueses: Francisco Duarte Mangas, Urbano Tavares Rodrigues, José Viale Moutinho, José Saramago, Fernando Pessoa, Jorge Sousa Braga, Eugénio de Andrade e António Ramos Rosa. 

Alfarrabista fica na Rua do Trombeta, no Bairro Alto

Dentro de portas, espalhados pelas estantes e pelas mesas, há escritores estrangeiros como Jack Kerouac, John Le Carré, Jonathan Fresen e Gombrich.

E porquê uma livraria alfarrabista, isto é, com livros em segunda mão? Júlia e Luís queriam seguir as pisadas da família, mas apostar também na sustentabilidade e numa mistura de autores com livros mais recentes e comerciais em “bom estado”, custando na maioria entre 5 e 10 euros.


Há um toque extra que pensam ser uma “pequena surpresa”: é que “cada livro que vendemos aqui traz uma memória”, já que muitos, por exemplo, “vêm assinados, com uma dedicatória”.

Aberto no final de novembro, apostam no início de um clube do livro em janeiro, que terá a influencer Mariana Zina na sua abertura.

“Por exemplo, a Mariana utiliza o TikTok para divulgar livros e a leitura”, explica Júlia Oliveira, defendendo que, embora haja miúdos “muito viciados” nas redes sociais, também é possível usá-las para divulgar cultura.

Júlia diz que é possível “tentar influenciá-los da maneira que eles já estão a ser influenciados, mas para uma coisa melhor, ou seja, para a cultura, os livros, a diversidade e a igualdade”, exemplifica.

Este é um novo espaço cultural a abrir no Bairro Alto, a poucos metros de outros como a Casa do Comum e a Galeria Zé dos Bois. Os livros vendidos são em segunda mão
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