Jovens mais dependentes dos pais

por Agência LUSA
Os jovens sentem necessidade de "se estabilizarem economicamente antes de casarem ou terem filhos" DR

Os jovens estão dependentes dos pais até mais tarde e a maior parte ocupa profissões pouco qualificadas, apesar do aparecimento de um novo grupo com cargos de chefia por ter escolarização elevada, revela um estudo oficial.

As conclusões são apresentadas no relatório "A condição juvenil portuguesa na viragem do milénio", encomendado pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto e elaborado por sociólogos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que será hoje apresentado em Braga.

O trabalho analisa a população juvenil dos 15 aos 29 anos através do cruzamento de dados oficiais obtidos entre 1990 e 2005.

O estudo salienta "a progressiva intensificação da dependência familiar entre os mais jovens", fenómeno que atribui ao prolongamento da escolarização e ao retardamento da inserção profissional, salientando que a taxa de emprego cresce nos jovens com idades entre os 25 e os 29 anos, com uma "tendência de aproximação da taxa de actividade feminina à taxa masculina".

Segundo a análise, a maior parte dos jovens é trabalhador por conta de outrem e concentra-se principalmente em actividades relativamente pouco qualificadas, como o operariado, ou em trabalhadores administrativos comerciais e de serviços.

O documento realça que o segmento jovem é cada vez mais qualificado, mas também, por contraste, aquele em que o abandono escolar desqualificado "está longe de ser erradicado".

"Praticamente 50 por cento dos jovens empregados em 2004 não têm mais do que a escolaridade mínima obrigatória, o que dá conta do arcaísmo que continua a caracterizar o sistema de emprego português, dominado por segmentos onde se privilegia mão-de-obra desqualificada, barata e intensiva", escrevem os autores.

Em contraste com esta realidade maioritária, triplicaram os casos de jovens empregados com ensino superior de 1991 a 2001 e denota- se "o envolvimento crescente em lugares de chefias, de direcção e quadros - com especial relevo nas mulheres" -, de jovens formados.

A proporção de jovens enquadrados no grupo sócio-económico "directores, quadros e chefias" sobe de 9,9 por cento em 1991 para 17,6 por cento em 2001, "muito provavelmente em consequência do aumento das taxas de escolarização a nível universitário", refere o relatório.

A subida das taxas de desemprego juvenis "atinge contornos preocupantes" e afecta mais as mulheres do que os homens, salienta o relatório.

O movimento de escolarização crescente tem um efeito perverso, com um assinalável aumento na última década do desemprego entre jovens com habilitações superiores, que passou de cinco por cento em 1991 para 21 por cento em 2001, embora os jovens com menos qualificações escolares continuem a ser os mais vulneráveis à situação de desemprego.

De acordo com o documento, o desemprego qualificado decorre da "resistência a empregos precários ou desqualificados, fazendo uso do apoio familiar", e da "predominância de empresas de pequena e média dimensão no tecido produtivo nacional", dirigidas, geralmente, por agentes sociais detentores de baixos graus de escolaridade, "que tendem a demonstrar uma maior resistência a politicas de recrutamento de quadros superiores".

Por outro lado, indica o documento, os jovens menos qualificados têm menor possibilidade de negociar a sua inserção profissional e estão ainda mais sujeitos a trabalhos precários e a subemprego, com uma tendência de se sujeitarem a qualquer tipo de trabalho devido à urgência do salário e à escassez de ofertas.

A situação do emprego reflecte, segundo o estudo, o abandono escolar destes jovens, 35 por cento dos quais saem do sistema de ensino sem ter completado os nove anos de escolaridade obrigatória.

"Dos jovens desempregados em 2005 a grande maioria encontrava- se em `desemprego de circulação`, ou seja, já transitaram mais do que uma vez de emprego", salienta o relatório, acrescentando que são também cada vez mais prolongados os tempos de desemprego.

Nos últimos anos são "também cada vez mais prolongados os tempos de desemprego", com o desemprego de longa duração (efectivos há mais de um ano) a atingir em 2005 um terço dos jovens sem trabalho, acrescenta.

As questões económicas e sociais, nomeadamente "a necessidade sentida pelos jovens de se estabilizarem economicamente antes de casarem ou terem filhos e as dificuldades de inserção laboral", contribuem também para a decisão de ter filhos cada vez mais tarde.

A pesquisa aponta ainda a diminuição da proporção de acidentes laborais, que atingem sobretudo os homens e se verificam no sector das indústrias transformadoras.

O estudo cruzou dados de várias entidades oficiais, nomeadamente o Instituto Nacional Estatística, Direcção-Geral do Tesouro e Instituto do Emprego e Formação Profissional.

O perfil da juventude portuguesa foi coordenado por José Machado Pais e Vítor Sérgio Ferreira, e desenvolvido por Ana Matos Fernandes, Jorge Vieira, Pedro Puga e Susana Barrisco, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

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