Juíza brasileira permite novos depoimentos de acusados no caso "Furacão"

A juíza da 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro informou hoje que permitirá novos depoimentos aos acusados de ligação com a organização criminosa que actuava na venda de sentenças judiciais para beneficiar casas de jogos no Brasil.

Agência LUSA /

Entre os acusados, estão dois portugueses e um luso-brasileiro.

A decisão da juíza Ana Paula Vieira de Carvalho deve-se ao fato de que a maioria dos acusados não quis falar na primeira fase de depoimentos, alegando que os seus advogados não tinham tido acesso às gravações telefónicas feitas pela Polícia Federal e que comprovariam a venda de sentenças em favor de empresários do jogo.

A primeira fase de depoimentos deveria encerrar-se hoje.

Os advogados dos acusados que quiserem prestar novos depoimentos a 15, 16 e 17 de Maio deverão formalizar o pedido na Justiça Federal para realização de novo interrogatório.

De acordo com a juíza Ana Carvalho, as cópias das gravações estarão disponíveis para os advogados de defesa a partir de quinta-feira.

Devido ao novo prazo concedido pela juíza, todos os acusados de envolvimento com a máfia dos jogos que não têm foro privilegiado ficarão detidos no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, no Rio de Janeiro, até 17 de Maio.

Só depois desta data ocorrerá a transferência dos presos para o presídio de segurança máxima de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste do Brasil.

Entre os presos da chamada "Operação Hurricane" (furacão), lançada pela Polícia Federal a 13 de Abril, estão empresários, delegados, advogados e magistrados acusados dos crimes de tráfico de influência, corrupção passiva e activa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

O português Laurentino dos Santos, sócio de uma casa de jogos no Rio de Janeiro, é suspeito de utilizar empresas legais do sector de hotelaria e de turismo para branquear os milhões movimentados pelo grupo no Brasil ou enviá-los para o exterior.

Santos teria como sócio um outro português, Licínio Soares Bastos, que havia sido indigitado, no ano passado, para cônsul honorário de Portugal em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, mas a sua nomeação não chegou a ser formalizada junto ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

Dos 25 presos inicialmente, quatro com foro privilegiado foram libertados - os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, José Eduardo Alvim e José Ricardo Regueira, o juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região Ernesto da Luz Pinto Dória e o procurador regional da República do Rio de Janeiro, João Sérgio Leal Pereira.

Estes quatro acusados vão apresentar sua defesa no Supremo Tribunal Federal (STF).

Os 21 restantes e mais outros três envolvidos que tiveram a prisão preventiva decretada posteriormente vão responder a inquérito na 6ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, porque não têm foro privilegiado.

Neste grupo, além dos portugueses, está o advogado Virgílio Medina, irmão do juiz Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que se suspendeu do cargo face às acusações de envolvimento com o esquema.

Virgílio Medina é acusado de intermediar, pelo equivalente a 218 mil euros, uma decisão judicial concedida pelo seu irmão Paulo Medina, juiz do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para liberar máquinas de jogos de azar.

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