Lancha com 1.800 kg cocaína é de rede espanhola
A rede de tráficantes de droga a que pertencia a lancha que encalhou domingo em Caminha com 1.800 quilogramas de cocaína é espanhola, disse hoje à agência Lusa fonte policial portuguesa.
A conclusão resultou de investigações das autoridades nacionais e espanholas.
Segundo a fonte contactada pela Lusa, as duas polícias, que hoje continuaram a trabalhar em conjunto, concluíram que a embarcação era tripulada por três homens, e que estes chamaram outros dois ou três membros da rede - por rádio ou por telemóvel - para os recolherem no local, com recurso a outro barco.
"Está confirmado que a rede é espanhola e os seus operacionais também,", disse à agência Lusa fonte da Polícia portuguesa, garantindo que o caso estará totalmente esclarecido dentro de dias.
De acordo com o que disseram à Lusa fontes policiais, os contactos efectuados pelos suspeitos para que outros membros da rede os fossem buscar, poderão ter sido escutados pelos sistemas de vigilância electrónica de costa, controlados pelas autoridades marítimas portuguesas e espanholas.
O barco que encalhou domingo junto da Ínsua de Caminha - uma ilhota situada na foz do rio Minho e que possui um forte no seu interior - tinha 79 fardos de cocaína pura, com cerca de 25 quilogramas cada um que foram recuperados, com a ajuda de um helicóptero - pela Polícia Judiciária e pela Polícia Marítima portuguesas.
A lancha rápida - um bote do tipo das usados na Marinha - com 12 metros e três motores, dos mais modernos, encalhou, de madrugada, por motivos desconhecidos, "possivelmente avaria", nos penedos que protegem a Ínsua das investidas do mar.
No local, a Brigada Regional de Investigação do Tráfico de Estupefacientes de Braga, que faz parte da Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupefacientes (DCITE) encontrou a cocaína, concluindo que, aquando da avaria se procedia ao transporte da droga para Espanha e que a mesma era proveniente de um barco maior.
A mesma fonte da PJ explicou que se trata de uma lancha sem matrícula mas com bandeira espanhola.
A fonte disse ainda que a lancha foi retirada pelas autoridades cerca das 11:30, quatro horas e meia após o alerta para a situação, dado por pescadores.
As redes de tráfico de droga instalaram-se nas rias da Galiza, em Espanha, durante os anos 80 do século passado, tendo dado origem a diversos clãs de traficantes, que recorriam às chamadas "lanchas voadoras" - pela grande velocidade que atingiam - para recolher a droga de barcos no alto mar e a desembarcar na costa.
No final dos anos 90, os traficantes - a maioria deles sedeados em Villa Garcia de Arousa, província de Pontevedra, e com ligações ao narcotráfico colombiano e doutros países sul-americanos, começaram a ser perseguidos pela polícia espanhola, o que os levou a transferir as lanchas rápidas para o porto de Viana do Castelo, em Portugal.
A partir do porto do Alto Minho, os traficantes alugaram casas e apartamentos e recrutaram alguns membros portugueses para operarem no tráfico e na vigilância.
No porto de Viana, e entre 1990 a 1993, os traficantes galegos continuaram a operar quase impunemente, dado que o fenómeno era novo no país e a Polícia Marítima não dispunha de embarcações suficientemente rápidas para vigiar os seus movimentos.
à época, não havia sequer em Portugal legislação que permitisse controlar a atracação e os movimentos das "lanchas voadoras", que eram consideradas as «fórmula um» do mar, com cinco ou seis motores de alta potência cada uma.
Na primeira metade da década de 90, o juiz espanhol Baltazar Garzón efectuou uma série de detenções e operações de desmantelamento das redes - cujos membros haviam acumulado fortunas imensas - tendo destruído a maior parte delas.
Com o desmantelamento das mafias galegas, as "voadoras" foram retiradas de Viana, tendo algumas delas sido abandonadas em doca seca, onde apodreceram.
Uma das redes galegas, a dos "Charlins" está actualmente a ser julgada pela justiça espanhola, pela grande quantidade de tráfico de cocaína realizado entre 1989 e 1991 na Galiza.
Apesar da perseguição policial, as redes de narcotráfico espanholas tentam reorganizar-se, mantendo ainda grande operacionalidade, e tendo a Galiza, dado a profusão de rias e portos naturais, como um dos locais preferenciais de desembarque.