Líder de associação internacional espera que ataque no Centro Ismaili não altere imagem de tolerância de Portugal

por Lusa

O ataque ocorrido no dia 28 de março no Centro Ismaili, em Lisboa, que provocou a morte de duas mulheres, por ter ocorrido no espaço de uma comunidade religiosa "fez soar todos os alarmes".

O secretário-geral da Associação Internacional para a Defesa da Liberdade Religiosa (AIDLR), Paulo Macedo, espera que o acontecimento "não venha a alterar" a imagem de Portugal como um país muito tolerante a nível religioso.

"Ficámos particularmente comovidos por ter sido um crime horroroso, algo de que ninguém estava à espera e executado dentro do espaço de uma comunidade religiosa. Só o facto de ter sido dentro de um espaço de uma comunidade religiosa já fez soar todos os alarmes", diz Paulo Macedo.

Para este responsável, "quando são crimes cometidos por razões relacionadas com a religião", ainda causa mais preocupação, "porque é atentar a um grupo de pessoas por uma razão que pode ser religiosa", no entanto, sublinha que as informações disponíveis apontam para que não tenha sido isso que ocorreu: "Não foi contra aquela comunidade, nem foi no espaço religioso por ser um espaço religioso".

"Penso que não há razões para este clima que existe em Portugal sobre a religião dever ser alterado (...) pelo facto de ele [crime] ter acontecido dentro do espaço da comunidade ismaelita, embora devamos dizer que nós não estamos habituados a este tipo de situações em Portugal, mas elas existem em muitos outros pontos no mundo inteiro".

"Há cerca de um mês houve pessoas que foram mortas, penso que foram sete, mas não vou ficar preso ao número, dentro de um templo das Testemunhas de Jeová, na Alemanha. E foi um crime perpetrado por um membro da comunidade, descontente, que tinha saído, e aconteceu dentro de um espaço religioso e comoveu muitas pessoas", acrescenta o secretário-geral da AIDLR.

Segundo Paulo Macedo, "há um conhecimento bastante mais profundo hoje sobre a necessidade de proteção dos espaços públicos, também eles religiosos", pelo que espera que "não haja uma alteração de clima sobre o fenómeno religioso" por causa de um ato que tem sido apontado como isolado e não relacionado com a religião.

O responsável da AIDLR, porém, alerta que "Portugal tem algo de excecional relativamente à forma como as comunidades se relacionam umas com as outras e, também, relativamente à forma como a sociedade perceciona e vive o fenómeno religioso. Portugal tem um clima excecional, (...) que não está ainda completamente testado e começa a estar agora por diversas razões sociológicas".

"Portanto, na mesma medida em que eu digo que espero que o clima não se altere por causa deste fenómeno, também acho que só a partir de agora é que esse clima está a começar a ser testado", enfatiza.

Duas mulheres foram mortas no Centro Ismaili, em Lisboa, no dia 28 de março, num ataque com uma arma branca por um homem que foi detido e hospitalizado após sido baleado pela polícia.

O ataque foi condenado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo primeiro-ministro, António Costa, pela generalidade dos dirigentes políticos e por muitas confissões religiosas presentes em Portugal.

A Comunidade Muçulmana Ismaili em Portugal é constituída por cerca de 8.000 pessoas, que seguem os preceitos de um dos ramos xiitas do Islão. O Islão é uma das principais religiões monoteístas, cujos fiéis constituem um quarto da população mundial.

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