Lobos-marinhos madeirenses crescem e aparecem

Com uma média de três nascimentos por ano, os lobos-marinhos da Madeira são os únicos do mundo pertencentes a esta espécie ameaçada que não só aumentam como estão a perder a timidez: deixaram as grutas e aventuram-se nas praias.

Agência LUSA /

A colónia de "monachus monachus", nome científico destes animais simpáticos e brincalhões, ascende neste momento na Madeira a 30 exemplares e tem registado nos últimos cinco anos um crescimento constante.

Segundo Rosa Pires, responsável do projecto para a protecção e estudo do lobo-marinho da Madeira, que chega a pesar 400 quilos e a medir três metros, esta colónia madeirense de animais ameaçados de extinção a nível mundial é a única que dá indícios de aumento e de expansão.

Em declarações à agência Lusa, Rosa Pires disse que, além de aumentarem em número, os lobos-marinhos da Madeira estão a distribuir- se por mais áreas e a adoptar novos hábitos, "aparecendo em praias abertas em vez de grutas".

Inicialmente habitavam as Ilhas Desertas, um sub-arquipélago madeirense constituído pelos ilhéus Chão, Deserta Grande e Bugio, a 22 milhas do Funchal, mas nos últimos anos têm sido observados em várias outras zonas da Madeira, o que não acontecia há cerca de 30 anos.

Este facto levou o Parque Natural da Madeira a "intensificar as acções de informação sobre estes animais e seu comportamento".

"Até parece que não fazemos mais nada", acrescentou Rosa Pires anunciando que está a ser preparada uma "Semana do Lobo-Marinho", um programa a decorrer de 21 a 27 de Agosto, organizada com o apoio da câmara Municipal de Santa Cruz, local onde com frequência são observados exemplares de lobo marinho.

"É um animal brincalhão, chegando perto de embarcações e mergulhadores, e em jovem também é curioso, aproxima-se das pessoas sem receio", explica Rosa Pires.

Pode dormir à superfície da água parecendo estar inanimado, mas após um período de sono de 12 minutos tem de se movimentar para respirar e precisa de terra para repousar.

Rosa Pires refere que, por muito curioso e amigável que o lobo- marinho seja, é preciso nunca esquecer que se trata de "um animal selvagem e como tal pode ter reacções agressivas caso se sinta ameaçado, sendo ainda de grande porte, com tamanho desproporcional em relação ao homem".

Na Madeira são desconhecidos casos de comportamentos agressivos para com os humanos e os raros acidentes relatados tiveram origem em atitudes humanas imprudentes.

Durante as acções de divulgação, os interessados são aconselhados a não entrar e evitar aproximar-se das grutas onde estejam os lobos-marinhos, a manter a distância e evitar grandes movimentações à volta do animal, que não deve ser perturbado nem alimentado.

Quem estiver a pescar a vir aproximar-se um destes animais deve "afastar-se calmamente e contactar o serviço do Parque Natural da Madeira", aconselha Rosa Pires.

Este animal, também chamado foca monge do Mediterrâneo, é a foca mais rara do planeta e uma das espécies animais mais ameaçadas de extinção, existindo cerca de 500 exemplares em todo o mundo, distribuídos por colónias no Mediterrâneo, Mar Negro e Oceano Atlântico, costa noroeste de África e na Madeira.

Desde 1988 que o governo madeirense, através do Parque Natural da Madeira iniciou um projecto de conservação do lobo-marinho e do seu habitat que é assegurado por vigilantes da natureza que fazem patrulhas de bote ao longo das ilhas e efectuam observações directas dos animais sem intervir nas suas actividades.

Para melhor apoiar este trabalho foi construída uma casa nas Ilhas Desertas que permite aos vigilantes do Parque Natural desempenharem as suas funções, visto que ficam isolados da civilização por cerca de quinze dias, em melhores condições.

Rosa Pires salientou ainda estar a aumentar o número de pessoas que se predispõe a colaborar neste projecto em regime de voluntariado e que têm crescido os pedidos de autorização para visitar a zona.

Em 1997 foi criada uma unidade de reabilitação nas Ilhas Desertas para lidar com eventuais casos de animais debilitados.

O lobo-marinho é um animal que está ligado à descoberta da Madeira, datando os primeiros registos destas focas de 1419 quando os portugueses chegaram à ilha colónia na costa sul, o que deu inclusive origem ao nome de um dos concelhos da Região, Câmara de Lobos.

Estes animais utilizavam as praias para repousar e reproduzir- se, mas, perseguidos e caçados pelo homem, o número dos lobos diminuiu na Região e verificou-se um processo de regressão também devido à actividade piscatória no arquipélago.

Deixaram de ser vistos com frequência na ilha da Madeira até que uma colónia foi detectada nas Ilhas Desertas, tendo sido mais tarde desencadeados programas de protecção.

Segundo os especialistas, o aumento dos exemplares da colónia e a sua expansão para outras zonas da Madeira demonstram que estão a voltar a ter os hábitos ancestrais que se alteraram devido à perseguição humana.

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