Lobos não atacam pessoas
A aproximação dos lobos às aldeias durante a época de Inverno é uma "situação normal" na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês e não deve causar preocupação especial às populações, defendeu hoje o biólogo Francisco Álvares.
"Os lobos não constituem perigo para as pessoas", frisou Francisco Álvares, recordando que "não existe um único registo confirmado na Europa que se possa afirmar, sem sombra de dúvida, que se tratou de um ataque de um lobo a um ser humano".
Para o biólogo, um dos maiores especialistas portugueses nesta área, "não é pelo facto dos lobos atacarem gado a 200 metros das casas que se pode dizer que são um perigo para as pessoas".
"As gentes serranas sabem perfeitamente que o lobo teme o homem", afirmou, recordando que "os lobos sempre atacaram perto das aldeias no Inverno e nunca fizeram mal às pessoas".
"Os lobos evitam a presença humana e toda a perturbação que ela provoca", assegurou o especialista.
Francisco Álvares comentava à Lusa declarações recentes do presidente da Junta de Freguesia do Soajo, no concelho de Arcos de Valdevez, que alertou para o facto dos lobos estarem a aproximar-se "perigosamente" das habitações.
Manuel da Costa, em declarações esta semana à Lusa, revelou que os lobos atacaram ovelhas e cabras "a menos de 200 metros de habitações", acrescentando que as populações receiam um eventual ataque daqueles animais.
Para o biólogo Francisco Álvares, trata-se de um receio infundado, que se baseia numa "situação normal" que ocorre todos os anos durante o Inverno.
"Os lobos baixam às aldeias e atacam o gado mais perto das casas porque na serra não há alimento. Isto é sabido por todos, há muito tempo", afirmou, recordando que o tema já foi abordado por vários autores portugueses nas suas obras, incluindo Aquilino Ribeiro.
"O incêndio que destruiu no Verão a Serra do Soajo fez os animais descer e, naturalmente, os lobos vieram atrás deles porque são a base da sua alimentação", acrescentou o biólogo.
Na perspectiva de Francisco Álvares, o problema é que "os lobos são muitas vezes usados como bodes expiatórios" para tratar de outras questões, como, por exemplo, os atrasos nos pagamentos das indemnizações dos prejuízos que provocam.
"Os atrasos nos pagamentos são um assunto importante, que deve ser discutido, mas com seriedade e sem fantasias", defendeu Francisco Álvares, considerando que o alarmismo de algumas afirmações "não ajuda nada".