Mãe do "Menino Azul" fala em pressões de Lisboa para evitar encontro com Jardim
A mãe do "Menino Azul" afirmou ter sido pressionada por membros dos gabinetes dos ministros da Saúde e da Solidariedade Social e Trabalho para que evitasse encontros com o presidente do Governo da Madeira, atitude negada por ambos os ministérios.
O Ministério da Solidariedade Social e Trabalho negou à Lusa que alguém do gabinete tenha falado com a senhora em causa, "muito menos sobre o assunto em questão".
Já fonte oficial do Ministério da Saúde disse "desconhecer que tenha havido qualquer contacto entre o ministério e a mãe da criança".
Helena Silva estará a partir de dia 28 de Agosto na Ilha Dourada, acompanhada pelo Emanuel, o filho de 12 anos que sofre de Síndrome de Alagille e Tetratologia de Fallot, doenças que afectam o coração e o fígado e que causam um tom de pele azul, sendo considerado um caso único no mundo.
Foi convidada, por motivos de solidariedade, pela Associação de Comercial e Industrial portossantense para participar na Expo Porto Santo, a feira das actividades económicas daquele território insular.
"Houve uns senhores, membros das equipas dos Ministros da Saúde e da Segurança Social e Trabalho que me contactaram, dizendo que não precisava ir ao Porto Santo e encontrar-me com o presidente do Governo da Madeira porque era uma história que podia dar confusão e provocar outra vez barulho", disse à agência Lusa Helena Silva.
A luta desta mulher, que acusa o actual Governo da República de ter cancelado o apoio que lhe concedia, atribuindo-lhe "apenas o rendimento mínimo de pouco mais de 300 euros", é já conhecida.
Helena Silva mostra-se determinada a ter uma resposta a uma petição que está na Assembleia da República há cerca de um ano, que visa garantir melhor acesso a medicamentos por parte de pessoas com doenças crónicas e raras em Portugal.
"Eu não tenho medo, não obedeço. Eles é que têm medo das repercussões na comunicação social", adiantou.
"O meu encontro com o dr. Alberto João Jardim já está confirmado a 01 de Setembro", confirmou, considerando que, "sendo ele também uma pessoa sem papas na língua, esta situação poderá constituir um elemento de pressão para avançar o processo e a petição ser votada".
A mãe da criança critica, no entanto, aquelas pessoas em dificuldade que apenas pretendem subsídios, frisando que o seu caso é diferente.
"Não peço dinheiro quero é os medicamentos, não só para o meu filho, mas para todos os que têm doenças crónicas e raras, e algum apoio também para as mães que não podem trabalhar porque têm de acompanhá-los constantemente. Transformem o Rendimento Mínimo em caixas de comprimidos", apelou.
Helena Silva, que é mãe sozinha, já escreveu dois livros e pinta quadros com os dedos, que vende para sustentar-se e cuidar do filho.
"Não se deve andar a pedir, pode-se sempre trabalhar. Eu não era pintora, fiz-me de um dia para outro e, no Inverno, quando não posso ir às feiras vender os quadros até lavo escadas", referiu, mencionando que foi assim que consegui já pagar 20 mil euros a dívida de 30 mil que tinha por causa da doença do filho.
"Em 2005 fui castigada pelo Governo da República. Perdi tudo, só fiquei com despesas e as dívidas acumularam-se porque só de farmácia pago cerca de mil euros por mês", disse.
Helena Silva, que é açoriana, mencionou ainda que abandonou aquele o arquipélago "devido à discriminação".
"O Governo Regional dos Açores não autorizou a venda" do primeiro livro que escreveu, em 2002, intitulado "O Menino Azul", justificou.
Sobre o novo livro, o "Meu Menino Azul: querer é poder", que editou há cerca de dois meses, no qual inclui fotos e documentos relacionados com a luta para poder cuidar do filho, afirma: "Eles nem sonham. É muito forte. Falar é uma coisa, provar é outra".
Anunciou que nas três feiras em que participou este mês, a última das quais no Algarve, já pintou 300 quadros e pretende "bater o recorde dos pintores portugueses", atingindo os 190 numa única iniciativa, que terão o "custo simbólico" que varia entre os 50 e os 190 euros, dependendo do tamanho.
No Porto Santo, Helena Silva terá apenas dois quadros expostos e os restantes irá pintá-los publicamente, acompanhada pelo filho que assinará os livros que as pessoas possam querer.
Manifestou a sua satisfação pelo estado de saúde actual do Emanuel, considerando que "ele agora está óptimo e este ano pela primeira vez vai à escola".
Instado a comentar as alegadas pressões exercidas sobre Helena Silva, o presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim declarou que a ser verdade era uma "atitude de pulhas e rascas, de gente sem educação".