Maioria das portuguesas tem centímetros de gordura a mais

A maioria das portuguesas tem um perímetro abdominal superior a 88 centímetros, um valor de risco muito elevado para os problemas cardiovasculares, segundo um estudo que envolveu clínicos gerais e utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Agência LUSA /

O estudo "W-Risk: Alterações Ponderais e Situações de Risco" foi desenvolvido pela Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral (APMGC) e o epidemiologista Massano Cardoso, com o apoio de um laboratório, e é hoje apresentado em Lisboa.

A investigação envolveu 1.500 médicos de clínica geral e 15 mil utentes do SNS e visou avaliar a prevalência da obesidade abdominal (acumulação predominante de células gordurosas na região abdominal) em Portugal e relacioná-la com outras doenças.

O estudo hoje apresentado refere como "mais preocupante" o perímetro abdominal das mulheres: mais de uma em cada duas mulheres (65 por cento) apresenta um perímetro abdominal acima dos 88 centímetros, um valor considerado como de risco muito elevado para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares.

A percentagem de homens no mesmo escalão de risco é consideravelmente menor: 38 por cento têm mais de 102 centímetros de perímetro abdominal.

O epidemiologista Massano Cardoso, responsável pelo estudo, referiu que "é importante desmistificar algumas ideias pré- concebidas: não é preciso ser obeso para estar em risco cardiovascular".

"Uma pessoa pode ter um Índice de Massa Corporal (relação entre o Índice de Massa Corporal, o peso e a altura) dentro dos valores normais, mas ter um perímetro abdominal alterado e, logo, ter um risco cardiovascular acrescido", afirmou.

A investigação apurou ainda um conjunto de correlações entre a alteração no perímetro abdominal e outras doenças - como a diabetes ou a hipertensão arterial - e uma relação entre alguns factores sócio- demográficos e a obesidade abdominal, como é o caso da formação académica (a níveis mais elevados de formação corresponderam perímetros abdominais mais baixos).

Para o presidente da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral (APMCG), Eduardo Mendes, "este estudo tem grande relevância para a saúde em Portugal, para os profissionais da saúde e especialmente para os médicos de família que acompanham diariamente estas pessoas, na medida em que apresenta uma radiografia do "perímetro abdominal do país".

Segundo os especialistas, nem toda a gordura localizada no abdómen é a mesma: "Existe a gordura subcutânea e a gordura visceral ou intra-abdominal".

A gordura subcutânea está directamente armazenada debaixo da pele e não representa risco cardiovascular. A ameaça à saúde colocada pela obesidade abdominal deve-se à gordura intra-abdominal ou visceral (tecido adiposo) situada dentro da região abdominal e envolvendo os principais órgãos do corpo.

O tecido adiposo intra-abdominal é reconhecido por interferir no metabolismo da glucose e causar níveis anormais de colesterol HDL e triglicéridos.

A obesidade abdominal (definida pelo perímetro abdominal aumentado) está relacionada com o desenvolvimento de vários factores de risco tais como colesterol elevado, resistência à insulina, diabetes tipo 2, síndroma metabólica, hipertensão, inflamação e trombose, os quais podem conduzir a doença cardiovascular (enfarte do miocárdio, Acidente Vascular Cerebral).

Recentemente, um estudo internacional em que Portugal participou revelou que poucos médicos portugueses usam a fita métrica para avaliar a obesidade abdominal.

Participaram neste estudo que visou avaliar o conhecimento e a importância que os médicos dão ao que é considerado um novo factor de risco para a doença cardiovascular - a obesidade abdominal - 100 médicos de clínica geral portugueses, 100 doentes em risco cardiometabólico e 400 elementos da população em geral.

O estudo apurou que, apesar da obesidade abdominal ser reconhecida em Portugal pela maioria (71 por cento) dos médicos inquiridos como um importante factor de risco cardiovascular, um quinto dos clínicos referiram nunca ter medido o perímetro abdominal aos seus doentes.

A esmagadora maioria (86 por cento) admitiu não saber os valores correctos ou indicou valores errados.

Por seu lado, só uma minoria (um por cento) dos doentes demonstrou conhecimento do valor do perímetro abdominal a partir do qual está em risco de sofrer de doença cardiovascular.

O estudo revelou ainda que cerca de metade dos doentes nunca foi informada pelos seus médicos de clínica geral sobre a relação entre obesidade abdominal e risco cardiovascular acrescido.

Outra conclusão do inquérito é que a maioria da população portuguesa está mais focalizada no peso do que na obesidade abdominal.

Em Portugal, as doenças cardiovasculares matam mais de 30 mil pessoas por ano.

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