Mais antigo Cógido das praxes permite colheradas nas unhas e limpezas forçadas

por Agência LUSA

Os caloiros da Universidade de Coimbra que desr espeitem a praxe podem levar colheradas nas unhas ou ver o cabelo rapado, normas do mais antigo Código da Praxe, criado em nome da Academia e da integração dos alunos.

As praxes académicas continuam a ser um tema polémico e até já levaram alunos a apresentar queixa em tribunal, como aconteceu com uma estudante do Inst ituto Piaget de Macedo de Cavaleiros, que alega ter sido vítima de "praxes viole ntas" e cujo julgamento começa quarta-feira.

Na mais antiga universidade do país, o primeiro Código da Praxe ficou r egistado por escrito na década de 50, vindo a servir de modelo para muitos outro s regulamentos. As normas foram revistas em 2001, mas mantiveram-se alguns artig os controversos.

De acordo com o código, um caloiro não pode, por exemplo, andar na rua depois da meia-noite, uma infracção que pode ser sancionada com penalizações com o o corte do cabelo.

Cabe às trupes, estudantes trajados a rigor e muitas vezes encapuzados com a batina negra, percorrer as ruelas da cidade de Coimbra à caça de alunos "h ierarquicamente inferiores" que estejam a infringir as normas definidas pelo Con selho de Veteranos da universidade.

Maria Teresa (nome fictício) foi uma das muitas alunas apanhadas por um a trupe feminina quando estudava na Universidade de Coimbra, um momento que a de ixou "paralisada de medo".

Comer relva e levar uma tesourada no cabelo, que a obrigou a cortá-lo " bem curtinho", foram as sanções definidas pela trupe, que a terão reconhecido co mo caloira. Tudo porque estava na rua depois da hora permitida.

Segundo o código da praxe, todos os elementos da trupe podem dar tesour adas ou colheradas, estando apenas estabelecido que "os veteranos podem dar o nú mero de colheradas que quiserem, mas sempre em número impar".

As colheradas ou sanção de unhas - açoite aplicado nas unhas com a "Col her da Praxe" ou um sapato do próprio infractor - são a segunda sanção referida no Código da Praxe.

Caso um estudante se recuse a receber a punição definida, o chefe de tr upe pode pedir aos outros elementos "a imobilização do infractor no sentido de a aplicar", define o artigo 139º do novo código.

Hoje, a criação de trupes é uma prática em vias de extinção e o Conselh o de Veteranos recomenda aos grupos andarem de cara destapada.

"às vezes há comportamentos um bocado exagerados das pessoas e se os qu isermos responsabilizar é quase impossível", reconheceu o Dux (representante máx imo do Conselho de Veteranos) da Universidade, João Luís Jesus, garantindo, no e ntanto, que são "raras as queixas que aparecem" no Conselho de Veteranos.

Não poder circular na rua a partir de determinada hora são "reminiscênc ias do tempo da Polícia Académica" que permaneceram, mas o "controlo" começa a d esaparecer, já que "há cada vez menos trupes", lamentou aquele estudante da Univ ersidade de Coimbra.

Outra das práticas que entraram em desuso, de acordo com o Dux, foram a "pastada" (bater com a pasta na cabeça dos estudantes mais novos) e o "canelão" , uma praxe em que o caloiro é obrigado a passar por uma fila de "doutores", que o pontapeiam nas canelas.

"Já houve praxes violentas na universidade, mas foram sendo sucessivame nte abolidas", afirmou o Dux, garantindo que "a violência gratuita foi proibida e deixou de existir".

Outra das tradições que está a desaparecer é o julgamento de caloiros, um cerimonial "intimidatório" para definir qual o castigo a aplicar ao infractor .

Numa sala iluminada por velas com caveiras, onde as mesas são cobertas com capas pretas e todos os participantes estão encapuzados, os caloiros eram ju lgados num ambiente "intimidatório, para mostrar que não se deve desrespeitar as normas do código aceite", recordou o Dux.

Hoje, os caloiros continuam a poder ser "mobilizados e gozados", de aco rdo com o Código da Praxe, mas cabe à imaginação de cada "doutor" pôr em prática estas regras destinadas a integrar os mais novos na mais velha instituição de e nsino do país.

Entre as possíveis "mobilizações", encontram-se os "trabalhos doméstico s" em casa dos doutores.

Lavar as escadas monumentais ou a calçada portuguesa com uma escova de dentes ou medir a Ponte de Santa Clara com um palito são outras das praxes mais clássicas que continuam na moda.

Segundo o Dux João Luís, "a essência da praxe é que todos se divirtam".

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