Mais cidades no litoral do que no interior têm feito iniciativas de participação cívica

Um projeto do Instituto de Ciências Sociais e do ISCTE está a fazer um levantamento de iniciativas de participação cívica, mostrando clivagens entre o litoral e o interior e com a Área Metropolitana de Lisboa (AML) na liderança.

Gonçalo Costa Martins - Antena 1 /

Foto: Gonçalo Costa Martins - Antena 1 (arquivo)

No relatório de síntese dos resultados preliminares do projeto, consultado pela Antena 1, é destacado que Cascais (17), Lisboa (13) e Valongo (11) foram os municípios com mais inovações democráticas registadas pelo estudo até agora.

O projeto pretende mapear todas as inovações democráticas que aconteceram nos primeiros 50 anos de democracia em Portugal, iniciativas essas que são formas de ouvir as populações e envolvê-las nas políticas públicas, como por exemplos nos orçamentos participativos.

“Deduz-se que as inovações democráticas foram mais frequentemente adotadas em municípios localizados no litoral do país que apresentam maior densidade populacional”
, é referido no relatório.

Com o levantamento ainda em curso, o coordenador do projeto, Roberto Falanga, sublinha que houve um “um crescimento muito acentuado nos últimos anos” de inovações, em particular entre 2010 e 2020.

“Registámos no total 323 práticas até agora, em 154 concelhos, mas obviamente o estudo continua e vamos continuar a registar outras práticas”
, diz à Antena 1, notando que estão mapeadas iniciativas em metade dos municípios portugueses, enquanto não há para já registo na outra metade.

Está a ser realizado um inquérito a todas as autarquias e estão a ser analisados documentos da comunicação social, mas já existem “algumas tendências”, diz Roberto Falanga, como a diferença litoral-interior ou que “a AML lidera o grupo de municípios com mais práticas registadas”.

Foi em Palmela que se registou o primeiro orçamento participativo, em 2002, mas a primeira iniciativa remonta a 1990, em Castro Daire.


Na maioria dos casos mapeados até agora, os municípios foram os promotores diretos das práticas, sustentados na maior parte das situações em regulamentos municipais.

A área de cidadania e democracia foi a mais prevalente, em 131 iniciativas, seguida de finanças e economia, em 119, e promoção do desenvolvimento, em 43.

“O que nós gostaríamos de verificar, e de alguma forma já estamos a verificar com estes resultados preliminares, é que os municípios têm vindo a fazer um esforço notável para se aproximarem dos munícipes”
, comenta Roberto Falanga, em que com este estudo pretende-se “desconstruir algumas ideias pré-feitas sobre, por exemplo, a pouca participação e o pouco envolvimento da cidadania em tudo o que é matéria pública”.

Os resultados preliminares do projeto “Inovações Democráticas em Portugal”, com investigadores do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, e do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, vão ser apresentados esta tarde na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O projeto propõe apresentar no futuro uma base de dados aberta com o levantamento completo e um mapa interativo.
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