Mais de dez mil homens ajudados pela APAV nos últimos três anos

A APAV publicou esta quarta-feira estatísticas relativas à violência contra homens. Nos últimos três anos, a associação apoiou mais de dez mil vítimas do sexo masculino, com os números a mostrarem que pelo menos dois em cada três homens continuam a não pedir ajuda.

Inês Geraldo - RTP /
Pedro A. Pina - RTP

Os números da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima foram divulgados esta quarta-feira e compreendem um período de tempo entre 2022 e 2024. Nestes três anos, mais de dez mil homens foram apoiados pela associação o que revela um aumento de mais de 23 por cento no número de vítimas do sexo masculino.

“Durante este período, chegou ao conhecimento da APAV um total de 17.279 crimes e formas de violência praticados contra vítimas do sexo masculino”, pode ler-se na nota da Associação.

Daniel Cotrim, da APAV, esteve na manhã desta quarta-feira na RTP Notícias a explicar o aumento dos números e fez notar que o aumento dos pedidos mostra que o apoio da Associação está a funcionar, com o sexo masculino a terem mais informação e maior sensibilidade em questões como a violência doméstica.
“De alguma forma, parece-nos que a forma como estamos a dar apoio às pessoas, de alguma forma, está a resultar”.Daniel Cotrim pediu ainda atenção para um detalhe importante: por cada homem que pede ajuda, existem ainda dois que se calam, porque em Portugal ainda existe preconceito.

“Persiste ainda algum preconceito. Não diria um preconceito por parte das instituições, sejam da polícia ou da sociedade civil, porque têm tido muita formação nestas matérias mas de alguma forma a violência contra os homens ainda está perpetuada por um conjunto muito grande de preconceitos”, explicou.

E relembrou que no país ainda se vive uma “masculinidade tóxica” que diz que os homens não são fracos e que não devem chorar. Uma mentalidade que vai “continuando a envenenar” a liberdade dos homens em Portugal.

Foram registadas mais de cinco mil ocorrências em 2022, aumentando esse para perto dos seis mil em 2023. No ano seguinte, em 2024, foram denunciados mais de 6.100 casos. “Números que evidenciam não só o crescimento do fenómeno da vitimação masculina, como também a maior visibilidade e reconhecimento social destas situações”.De todas as vítimas apoiadas, cerca de 3.556 eram crianças e jovens até aos 17 anos. Mais de quatro mil casos foram relativos a adultos (com idades compreendidas entre os 18 e os 64 anos) e 1136 dos casos registados eram de pessoas idosas (com 65 anos ou mais).

A maioria das vítimas são portuguesas, com mais de 12 por cento dos casos a dizerem respeito sobre vítimas estrangeiras. Faro, Lisboa, Porto e Braga são os distritos onde está a maior parte das vítimas, o que para a APAV mostra “uma distribuição territorial significativa em todo o país”.

A Associação destacou que nestes casos de violência, os agressores costumam ser pais, mães, padrastos ou madrastas.

“Em 21,2 por cento, encontrava-se ou esteve numa relação de intimidade com a vítima; e em 5,1 por cento a pessoa agressora era filho ou filha da vítima. Já 19,6 por cento dos casos indicam outra relação entre agressor e vítima, e 3 por cento envolveram pessoas sem relação prévia”, continua a nota da APAV.

Perto de metade das ocorrências aconteceram na residência comum com a Associação a explicar que muitas das vítimas do sexo masculino demoram vários anos até efetivar denúncias.

“A APAV assinala ainda que 29,8 por cento das vítimas efetuaram o primeiro pedido de ajuda entre dois e seis anos após o início da vitimação, enquanto 10,9 por cento demoraram 12 ou mais anos até procurar apoio”.

Neste ponto, a Associação afirma que é necessário continuar a promover e a construir “confiança institucional”, especialmente no caso das vítimas masculinas. A maioria dos crimes está ligada à violência doméstica, seguindo-se crimes de ofensa à integridade física, ameaça ou coação, injúrias e difamação, burla e, por fim, abuso sexual de crianças.
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