Manifestação de polícias. Discurso de André Ventura no palanque causou mal estar

por RTP

Foto: José Sena Goulão, Lusa

Vários partidos mostraram solidariedade com as forças de segurança. O deputado do Chega protagonizou um dos momentos da tarde ao discursar perante os manifestantes. As associações sindicais demarcaram-se, defendendo que esta foi uma manifestação apartidária.

"Nós só queremos Ventura no poder, Ventura no poder": é desta forma que é recebido junto à escadaria da Assembleia da República.

Com a camisola do Movimento Zero vestida, a mesma camisola com que esteve na sessão plenária, o deputado do Chega é o único político a dirigir-se aos manifestantes a partir do palco montado pela organização.

E diz-lhes: "Não queriam que aqui viessem, montaram barreiras para nos impedir de falar. Montaram barreiras para vos impedir aqui de manifestar. Nunca o aceitaremos e vamos continuar a lutar para que os nossos polícias e as nossas forças de segurança tenham as melhores condições possíveis. Viva a polícia, viva Portugal".

As associações sindicais da PSP e GNR criticam e demarcam-se da intervenção do deputado do Chega. César Nogueira, da Associação de Profissionais da Guarda, diz: "Eu percebo os manifestantes que são apoiantes do deputado André Ventura que quisessem ouvir algumas palavras do deputado. Já não entendemos é como é que um deputado utilizou uma manifestação que é apartidária, é dos polícias para usar da palavra. Não o deveria ter feito".

Paulo Rodrigues, da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, por sua vez, declara: "Esta manifestação é uma manifestação que não tem nada a ver com partidos, é apartidária. Tem um objetivo, é reivindicar os nossos direitos".

O que é certo é que, mal André Ventura falou, o protesto começou a desmobilizar.

Pela manifestação passaram outros partidos. CDS e PAN junto ao Parlamento. Telmo Correia, do CDS, afirmou: "Quando este número de pessoas chega aqui nesta quantidade e neste protesto, isto tem um significado muito claro. É que os homens e as mulheres que estão nas forças de segurança chegaram ao limite da sua capacidade de resistência, de aguentar, como a ignorância que aconteceu em relação ao seu trabalho, às suas necessidades durante muito tempo".

Inês Sousa Real, do PAN, disse: "Já tivemos uma primeira reunião com o Governo, em sede do orçamento do Estado, e deixámos precisamente a nossa preocupação para que já neste orçamento possa haver um maior investimento não só a nível desta carreira, como também das demais carreiras especiais, porque achamos que é uma reivindicação mais do que justa".

Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal e PCP decidiram fazê-lo ainda antes do início da manifestação, junto ao Marquês de Pombal. Para o comunista António Filipe, "é justo o descontentamento dos profissionais das forças de segurança porque, de facto, os problemas têm vindo a suscitar ao longo dos anos ao Governo não têm obtido resposta e, portanto, não basta o Governo afirmar-se disponível para o diálogo. É preciso que os problemas sejam resolvidos".

A bloquista Sandra Cunha declarou a sua "solidariedade às reivindicações laborais dos profissionais das forças e serviços de segurança". E acrescentou: "Há um desinvestimento muito grande há muitos anos em sucessivos governos".

Para João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, "o Estado tem funções que não devia ter, [mas] esta função de soberania de assegurar a ordem pública, a segurança pública, é absolutamente fundamental. Sem isso, não há liberdades individuais, não há um Estado mais liberal do que aquele que temos hoje".

À margem do congresso do PPE, na Croácia, Rui Rio reagiu ainda antes do protesto começar, dizendo: "Percebo perfeitamente as razões da manifestação, aceito a manifestação mas pacífica e que jamais se volte a dar uma imagem de polícias contra polícias. Isso é que eu não posso aceitar e isso está do lado dos polícias que se estão a manifestar, e não dos outros que estão em serviço".

Nem o PSD, nem o PS foram ao encontro dos manifestantes. A socialista Ana Catarina Mendes prometeu que o PS estudará respostas para as reivindicações das forças de segurança: "Estamos atentos, respeitamos o direito à manifestação, estamos muito atentos às reivindicações e temos a confiança de que nesta legislatura continuaremos a aprofundar as respostas para as necessidades que têm as nossas forças de segurança e que nos merecem o melhor respeito".

Livre e PEV, nem falaram, nem apareceram na primeira grande manifestação da legislatura à frente da Assembleia da República.
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