Marido terá premeditado assassínio da mulher por motivos passionais - PJ
Mangualde, Viseu, 05 Mai (Lusa) - O homem acusado de ter assassinado a mulher, cujo corpo foi encontrado numa lagoa de Mangualde, em Julho do ano passado, terá agido premeditadamente e por motivos passionais, declararam hoje em tribunal inspectores da Polícia Judiciária.
O cadáver da mulher de 30 anos foi encontrado na lagoa de uma pedreira da Cunha Baixa na manhã de 14 de Julho, um sábado, por cidadãos de Leste que aí se tinham deslocado para tomar banho, apresentando indícios de agressão e de ter sido baleado várias vezes.
O marido, Paulo Silva, agora com 31 anos, tinha comunicado na sexta-feira de manhã a familiares e vizinhos o desaparecimento da mulher e chegou a participar nas buscas. Foi detido às 04:00 de domingo pela Polícia Judiciária de Coimbra.
Hoje, na primeira sessão do julgamento, os dois inspectores da PJ que dirigiram a investigação contaram que o marido "confessou informalmente" ter sido o autor do crime, nos momentos antes da viagem para o Tribunal de Mangualde, na segunda-feira.
"O guarda prisional chamou-nos a pedido do arguido", contou um dos inspectores, acrescentando que foi a partir "dessa conversa informal" que perceberam alguns pormenores do crime.
Na sua opinião, o crime foi "premeditado e a vítima traída por ele", que a convenceu a deslocar-se à pedreira já perto da meia-noite.
"Levava uma arma municiada, luvas nas mãos. O próprio trajecto indicia que houve premeditação", afirmou.
Segundo o inspector, que é instrutor de tiro, a vítima foi atingida do lado direito por vários disparos de uma arma de calibre 6.35 (cujo carregador pode levar até oito munições) e também pelas costas, pelo menos uma vez.
No chão, junto à lagoa, estavam três cápsulas. No interior do carro da vítima, que também foi encontrado dentro da lagoa, estava outra cápsula e um projéctil e a forra do lado do condutor perfurada, por um disparo que terá surgido do lado do pendura.
O inspector mostrou-se convencido de que "houve uma tentativa de reacção da vítima", devido aos orifícios nos braços com que supostamente ficou ao tentar proteger-se dos disparos.
O outro inspector falou dos vestígios de sangue detectados numa t-shirt que estava escondida debaixo de uma telha do telhado frontal da casa do arguido e numa luva encontrada num pinhal entre Mangualde e Nelas, que tinha pintadas as iniciais do arguido dentro de um círculo (tal como outras que estavam na garagem).
Foi o próprio marido da vítima que indicou aos inspectores onde estava a t-shirt e as luvas.
Este inspector afirmou que se terá tratado de "um crime passional", uma vez que se comentava que Paulo Silva "teria ou pretendia ter um relacionamento com outra pessoa".
Aludiu ainda à existência de dívidas, uma a "uma tia-avó (do arguido) de 40 mil euros resultante de venda de um apartamento" e um empréstimo bancário que ficaria pago em caso de morte de um dos cônjuges.
A cunhada de Paulo Silva (mulher de um irmão da vítima) disse que se comentava entre a população da Cunha Baixa que ele andaria envolvido com uma mulher que trabalhava num café da povoação, onde, segundo lhe disse a vítima no domingo antes da sua morte, ele passava muito tempo.
Segundo a acusação, Paulo Silva e a mulher terão discutido na tarde de quinta-feira e esta terá sido agredida fisicamente mas, só várias horas depois, cerca das 23:30, é que o casal terá saído de casa em direcção à pedreira.
Uma mulher residente na Cunha Baixa contou em tribunal ter ouvido, cerca da meia-noite de quinta para sexta-feira, dois disparos seguidos e, segundos depois, um terceiro.
Durante a manhã, foram chamadas a depor sete testemunhas, tendo o avô de Paulo Silva sido o único que preferiu não falar.
O arguido também optou por ficar em silêncio, alegando não estar "em condições para falar" e "muito nervoso".
O julgamento é retomado às 14:00.