Marroquinos desembarcados no Algarve começaram a ser repatriados, acusa BE
Porto, 22 Jan (Lusa) - Seis dos 23 imigrantes marroquinos que desembarcaram em Dezembro na ilha da Culatra, Algarve, já foram repatriados "sem que ninguém soubesse de nada, nem sequer as suas advogadas", denunciou hoje o deputado do BE José Soeiro.
José Soeiro visitou hoje o Centro Habitacional de Santo António, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), onde se encontram os imigrantes, depois de inicialmente ter visto a sua entrada vedada - o que, acusou, contraria o dever de solidariedade das instituições públicas para com os deputados parlamentares.
"Depois da proibição de hoje de manhã, o SEF acabou por recuar e autorizar a visita. Reuni com os imigrantes e constatei que seis já não estão cá e que ninguém sabia disso, nem as suas advogadas. Houve uma clara tentativa de ocultação do repatriamento", acusou o paralmentar.
Segundo José Soeiro, os imigrantes ainda detidos em Portugal estão "muito revoltados com esta decisão, que classificam de cruel e de uma espécie de pena de morte".
"Eles colaboraram com as autoridades portuguesas, revelando o nome do indivíduo a quem pagaram para vir para a Europa. A lei prevê mecanismos de protecção para este tipo de situações, mas o Governo optou por não o fazer. Entregá-los a Marrocos é deixá-los nas mãos dos traficantes e devolvê-los às condições de vida de que estão a fugir", acusou.
O deputado do Bloco adiantou que "outros quatro imigrantes devem ser repatriados esta madrugada, sem que ninguém saiba o que lhes vai acontecer".
Rui Pereira garantiu sexta-feira que os 23 imigrantes clandestinos seriam expulsos "dentro de dias".
"O SEF tem desenvolvido todos os esforços no sentido da identificação dos cidadãos que imigraram ilegalmente para Portugal e aquilo que foi decretado judicialmente foi que fossem expulsos", disse Rui Pereira aos jornalistas, à margem da inauguração do novo quartel dos Bombeiros Voluntários de Paço de Arcos, em Oeiras.
No início de Janeiro, o Bloco de Esquerda apelou à "humanidade" do ministro para que concedesse a autorização de residência aos 23 imigrantes clandestinos.
Nove associações de imigrantes já anunciaram que vão realizar, sábado, uma "grande manifestação" no Porto contra a detenção dos 23 marroquinos.
Rui Pereira garantiu que o futuro destes imigrantes marroquinos "passa pela expulsão", sublinhando que Portugal tem "uma política global de imigração" que aceita a imigração legal.
"Esta é uma janela de oportunidades para o desenvolvimento dos países de origem e de destino", disse o ministro, sustentando, no entanto, que Portugal combate a imigração ilegal, que "está associada a fenómenos humanitários gravíssimos".
Os 23 imigrantes que foram detectados em meados de Dezembro junto à Ilha da Culatra, Olhão, no Algarve, partiram de Kenetra, a 40 quilómetros de Rabat, Marrocos.
Segundo disseram às autoridades portuguesas, viajaram durante cerca de quatro dias até alcançar o Algarve numa pequena embarcação a motor.
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