Maternidade da Figueira encerrou há um ano
Um ano após o encerramento do bloco de partos do Hospital Distrital da Figueira da Foz (HDFF) a administração hospitalar faz um balanço positivo da medida, afirmando que as grávidas voltaram a procurar o serviço de ginecologia.
"Faço um balanço positivo do último ano. Dissemos sempre que era o bloco de partos que fechava, não era o serviço de ginecologia e obstetrícia e as grávidas estão a voltar às consultas" disse à agência Lusa Vítor Leonardo, presidente do conselho de administração do HDFF.
O bloco de partos e as urgências de obstetrícia e ginecologia do Hospital da Figueira da Foz encerraram a 04 de Novembro do ano passado, altura em que as utentes passaram a ser encaminhadas para as maternidades Daniel de Matos e Bissaya Barreto, em Coimbra, e Hospital de Santo André, em Leiria.
Vítor Leonardo assume que, na altura do encerramento e nos meses posteriores, existiu um decréscimo significativo na afluência às consultas de ginecologia, que atribuiu ao "muito ruído" provocado pela contestação popular ao encerramento do bloco de partos.
"Houve muito ruído na altura que levou a que nos primeiros tempos [entre Novembro de 2006 e Maio de 2007] tenha havido uma quebra grande no número de consultas", frisou.
Segundo o administrador do hospital, em Maio de 2007 o serviço apresentava dois terços das consultas realizadas comparativamente ao mesmo mês do ano anterior.
Actualmente, um ano passado do encerramento da maternidade, o número de consultas situa-se nos 82 por cento.
"Quer dizer as novas grávidas tiveram um momento de alguma expectativa mas acabaram por voltar [às consultas no hospital]" afirmou, acrescentando que as estimativas apontam para a realização de 10.380 consultas de ginecologia no final do ano, menos oito que em 31 de Dezembro de 2006.
"Tem sido feito muito trabalho interno pelos nossos profissionais. E temos um curso pré-parto para preparar os pais para a gravidez e parto", revelou.
Indiferente aos números apresentados pela administração do hospital, o movimento de cidadãos "Nascer na Figueira" continua a reclamar a reabertura do bloco de partos, considerando negativo o encerramento e aludindo aos sete nascimentos ocorridos fora das maternidades, três em plena auto-estrada para Coimbra.
"O balanço do encerramento é negativo. Mantemos os mesmos receios do início, uma grande preocupação que venha a acontecer um desenlace funesto com os nascimentos em contexto extra-maternidade" disse Silvina Queirós, dirigente do movimento.
A 26 de Outubro, segundo Silvina Queirós, uma criança nasceu nas urgências do hospital da Figueira da Foz, o sétimo caso fora das maternidades de destino desde que o bloco de partos encerrou.
"Foi dos tais que se não tinha ido para hospital e avaliado na urgência, seria mais um para nascer na auto-estrada", acusou.
O presidente do conselho de administração confirmou o nascimento de uma criança na urgência do HDFF a 26 de Outubro, mas frisou tratar-se de uma "situação atípica, de uma senhora que não sabia que estava grávida".
"Foi vista às 16:45, vista pelos médicos, queixava-se de dores lombares e sensação de peso. Mantinha o período menstrual mensalmente, uma situação atípica. A criança nasceu 35 minutos depois, às 17:20", disse.
Vítor Leonardo desdramatizou os restantes nascimentos fora das maternidades, dois na urgência do HDFF - um dos quais de uma mulher que chegou a ser transportada para a maternidade em Coimbra, vista por um médico e mandada regressar a casa - um numa garagem da freguesia de Buarcos "que nem ao hospital chegaria a tempo" e os três ocorridos na auto-estrada.
Sobre estes últimos sustentou-se num relatório da Inspecção-Geral da Saúde "que conclui que apenas um deles teria tido tempo para chegar aqui ao hospital".
A 08 de Março uma menina de descendência chinesa nasceu, de parto normal, a bordo de uma ambulância dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz, ao quilómetro 17 da A14, no concelho de Montemor-o-Velho.
Duas semanas depois, ao quilómetro 23 da mesma via nasceu Gonçalo, filho de Ana Redondo, administradora da empresa municipal Figueira Grande Turismo.
A mãe, numa vigília promovida no Dia da Criança pelo movimento "Nascer na Figueira, classificou a experiência como "uma aventura com final feliz".
Experiência idêntica teve Aldina Figueiredo, a 16 de Maio, ao quilómetro 33 da A14, onde Micaela nasceu.
"Tinha muitas dores, tive de chamar a ambulância e ir para Coimbra. Com os solavancos da estrada a Micaela nasceu logo ali" disse aos jornalistas, na altura, a mãe da criança, sobre o parto, assistido, tal como os restantes, por um médico do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Os nascimentos na auto-estrada A14 estão na base de uma iniciativa agendada para as 16:00 de hoje pelo movimento "Nascer na Figueira", que decidiu assinalar o primeiro aniversário do encerramento do bloco de partos com a colocação de um cartaz junto àquela via.
O cartaz, que ficará situado num morro situado sensivelmente ao quilómetro sete da A14, no sentido Figueira-Coimbra, "num local com grande visibilidade" alerta para o "perigo" dos nascimentos "em contexto extra-hospitalar", disse Silvina Queirós.
Para além do cartaz, o movimento de cidadãos vai divulgar um manifesto, assinado por personalidades de diversas áreas da sociedade civil da Figueira da Foz que reclamam a reabertura da maternidade local.