Medicamento para gota com constrangimentos na produção. Problema começa a ser resolvido hoje

O laboratório que distribui o medicamento em Portugal para a doença gota assumiu que existem constrangimentos no seu fornecimento, porque a fábrica onde o fármaco era produzido parou no início do ano. A situação começa esta semana a voltar ao normal, mas muitas farmácias tiveram problemas na dispensa de embalagens para vender nos últimos meses, registando queixas de vários doentes.

Arlinda Brandão, Rita Soares - Antena 1 /

Foto: Pedro A. Pina - RTP | Reportagem de Arlinda Brandão

A Associação Nacional das Farmácias confirma à Antena 1 os constrangimentos relacionados com o medicamento Colchicine - um fármaco para o tratamento da gota e de várias doenças auto-imunes. 

Algumas farmácias, refere a associação, não têm neste momento nenhuma embalagem para vender. A situação agravou-se sobretudo no último mês, mas há estabelecimentos que não vendem o medicamento desde abril.

É o caso da Farmácia Alentejo, na freguesia de Alvalade, em Lisboa. A proprietária Maria João Deus Rodrigues conta várias situações em que o utente "tem uma 'nega' porque não consegue encontrar esse medicamento". O que acaba por acontecer, descreve, é que os utentes tentam ter dos médicos outra prescrição, mas que não é igual ao produto.

Também na Farmácia Alto do Lumiar, mais a norte de Lisboa, a posição é a mesma.

"É um medicamento que não tem nenhum igual no mercado", explica a diretora técnica Raquel Nobre Guerreiro, levando a que as pessoas fiquem "um bocadinho em pânico".
Laboratório procurou alternativas, Infarmed autorizou "apresentação rotulada em francês"

Contactado pela Antena 1, o laboratório Jaba Recordati, que tem a licença de distribuição do medicamento Colchicine em Portugal, aponta que os constrangimentos surgiram porque a fábrica que produzia o fármaco na Roménia decidiu parar no início deste ano. 

O diretor-executivo do laboratório lamenta a situação e garante que tudo fez para resolver o problema o mais depressa possível. Nélson Pires assegura que a partir desta segunda-feira a situação começa a voltar ao normal.

"Não temos stock para num mês vendermos quatro ou cinco meses", diz, pelo que vai ser preciso "algum equilíbrio nas notas de encomendas que vêm dos armazenistas e das farmácias para que o produto chegue a todos".

Depois de encontrar uma alternativa em Itália, Nélson Pires afirma que houve problemas nesse processo, virando-se então para um fabricante em França que fez chegar o fármaco a Portugal na semana passada. 

"Está a ser inserido o folheto em português e vão começar a chegar aos doentes", garante Nélson Pires, afirmando que "até à entrada do novo lote do novo fabricante está assegurado o abastecimento normal para todos os doentes".
Apesar dos constrangimentos assumidos pelas farmácias que o laboratório estima terem afetado cerca de dez mil pessoas por mês, desde março, Nélson Pires explica que não se verificou uma rutura, e que o laboratório, as farmácias e o Infarmed conseguiram gerir o stock disponível. 

Numa nota enviada à rádio pública, o Infarmed esclarece que foi notificado pelo laboratório da "rutura de abastecimento até março de 2026, por constrangimentos no fabrico". 

"A notificação foi efetuada em fevereiro de 2025, e desde então, o Infarmed tem articulado com a empresa e com os parceiros europeus para garantir a disponibilidade deste medicamento", escreve a Autoridade Nacional do Medicamento.

Depois de aprovada em abril uma primeira autorização, que vinha de Itália mas que teve problemas logísticos, o Infarmed deu uma segunda autorização para a "utilização excecional de uma apresentação rotulada em francês, com distribuição prevista a partir desta semana"

As novas embalagens, com 30 comprimidos em vez dos 20 que eram habituais, devem chegar às farmácias a partir desta segunda-feira ou terça-feira. 

A presidente da Associação Nacional das Farmácias, Ema Paulino, explica que a prescrição anterior é válida, ou seja, os doentes não precisam de uma receita diferente.

Ainda assim, a dirigente fala num contexto de comercialização particularmente difícil por se tratar de um fármaco usado, muitas vezes, em dosagens elevadas.
c/ Gonçalo Costa Martins - Antena 1  
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