Menezes acusa Sócrates de se indignar "com uma coisa que não aconteceu"

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Vouzela, Viseu, 21 Jan (Lusa) - O presidente do PSD, Luís Filipe Menezes, acusou hoje o primeiro-ministro de, "numa lógica quase estalinista", ter-se indignado com algo "que não aconteceu", aludindo a declarações sobre a morte de dois bebés a caminho do hospital.

"É insuportável a forma demagógica, populista, como o senhor primeiro-ministro está a fazer política em Portugal", afirmou, acrescentando ter visto domingo José Sócrates "indignado porque a oposição estaria a utilizar a desgraça decorrente da morte de duas crianças infelizes [em Anadia e Viseu], em circunstâncias ainda por apurar".

Luís Filipe Menezes disse aos jornalistas, em Vouzela, não ter visto "nenhum dirigente da oposição, do PCP, do CDS e do PSD a utilizar essas mortes, que são lastimáveis, mas que ninguém pode provar que estejam ligadas ao problema do fecho dos serviços de saúde".

Domingo, em Viana do Castelo, José Sócrates classificou de "absolutamente infeliz e um exemplo de oportunismo e mesquinhez política" a tentativa de associação da morte de um bebé na Anadia ao fecho das urgências no hospital daquele concelho.

O líder social-democrata contra-atacou hoje, acusando José Sócrates de ser ele que, "de uma forma oportunista, no fundo, não querer discutir a problemática de um sistema de saúde que está um caos" e a perder a confiança dos portugueses.

Na sua opinião, o ministro da Saúde, Correia de Campos, "é um homem que tem muita experiência, bem intencionado, mas está a falhar politicamente".

No entanto, considera que o responsável pelo descontentamento de populações e autarcas - de que são exemplo os de S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades, com quem esteve hoje reunido - "é o primeiro-ministro, não é o ministro da saúde".

"O Governo deveria, com humildade, discutir esta problemática da reorganização dos serviços de saúde com todos os autarcas, com a sociedade civil, com o Parlamento e procurar consensualizar politicamente no país um modelo que sirva a toda a gente" e onde todos possam confiar, defendeu.

Luís Filipe Menezes criticou a "atitude autista" do Governo nesta questão, ao considerar que "as pessoas são meros números".

No seu entender, "deveria existir uma franja de consensualização possível" sobre esta matéria, "porque daqui a um ano e meio já não haverá Governo socialista e haverá Governo PSD".

"E nós não queremos voltar com tudo ao princípio, deve haver uma continuidade do ponto de vista das grandes opções do Estado", nomeadamente no que respeita ao sistema de saúde, sublinhou.

Luís Filipe Menezes anunciou que pretende realizar ainda este mês ou no início de Fevereiro uma reunião com todos presidentes de Câmara do PSD para falar da reestruturação dos cuidados de saúde e do mapa judiciário.

Hoje, esteve reunido com os autarcas dos três concelhos da região de Lafões - Vouzela, S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades -, que estão preocupados com o encerramento dos Serviços de Atendimento Permanente (SAP) dos centros de saúde dos dois primeiros, entre as 00:00 e as 08:00, desde o passado dia 02.

A indecisão por parte do Governo em criar uma Unidade de Urgência Básica em S. Pedro do Sul (que serviria toda a região de Lafões), para a qual a autarquia adquiriu terrenos na sequência de um estudo técnico do Ministério da Saúde, foi outro dos assuntos focados.

Sem se pronunciar sobre a questão concreta da UUB, Luís Filipe Menezes considerou que "há razões muito marcadas para desconfiar dos estudos técnicos que suportam decisões políticas", dando como exemplo o relativo à construção do aeroporto na Ota que, "de um momento para o outro, se verificou que não era a melhor solução".

AMF


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