Menina queimada com óleo operada com sucesso em Espanha
A menina de seis anos transferida do Porto para um hospital na Galiza com queimaduras em 40 por cento do corpo foi operada quinta-feira com sucesso e será novamente intervencionada esta semana, disse hoje à Lusa fonte hospitalar.
De acordo com o médico Carlos Mariz - que acompanha o caso desde que, a 31 de Agosto, a criança deu entrada no Hospital de S. João após ter sido atingida com óleo a ferver num café do Porto - na primeira operação foi enxertada a pele de toda a parte anterior do corpo afectada, nos braços, pernas e tórax.
"No domingo fizeram-lhe um penso e verificaram que os enxertos tinham todos pegado, o que é um bom indicador", salientou.
Ainda esta semana, "na quinta ou sexta-feira", os médicos do Hospital Teresa Herrera, na Corunha, vão fazer uma nova intervenção para enxertar a pele das costas.
"Prevê-se que num mês ou mês e pouco toda a pele esteja completamente fechada e cicatrizada", afirmou o médico, salientando tratar-se de um "tratamento bastante agressivo, que só uma unidade com muita experiência poderia executar".
Segundo destacou o clínico, foi possível usar nos enxertos pele da própria criança, colhida da zona das coxas, evitando-se assim o recurso a "pele" sintética, como estava inicialmente previsto.
De acordo com Carlos Mariz, a menina deverá regressar a Portugal dentro de três semanas a um mês, onde prosseguirá por vários meses os tratamentos no Hospital de S. João.
Aquando da transferência da criança do Porto para o Hospital pediátrico da Corunha o clínico justificou esta opção por não haver em Portugal uma unidade de queimados pediátrica com os meios mais adequados ao seu tratamento.
"Antes de se avançar com a transferência para a Galiza foram contactados vários hospitais portugueses com unidades de queimados, mas nenhum aceitou recebê-la, devido à gravidade do caso", garantiu então à Lusa uma outra fonte do Hospital de S. João.
A mesma fonte frisou que "o Hospital de S. João não tem qualquer interesse em transferir os doentes para Espanha, até porque tem de suportar os custos do tratamento e o transporte".
A única unidade pediátrica de queimados em Portugal, a funcionar no Hospital Dona Estefânia, foi encerrada em Junho do ano passado "por razões de segurança para os doentes", segundo o director-geral de Saúde.
Contudo, Francisco George afirmou, pouco depois de conhecido o caso desta criança no Porto, que o Dona Estefânia dispõe de camas na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos para atender estes casos.
Afirmando na altura desconhecer as razões que levaram a criança a ser transferida para Espanha, o director-geral de Saúde disse existir também no Hospital de S. José, em Lisboa, uma unidade de queimados para doentes com mais de 10 anos, "que poderia ter tratado a criança".
Porém, reconheceu que "a extensão e o grau das queimaduras justificam a transferência" para um "centro de excelência" como o da Galiza.
A fonte do Hospital de S. João contactada pela Lusa reconheceu que o Hospital de S. José, em Lisboa, não foi contactado.
"Contactámos todas as unidades que habitualmente recebem doentes pediátricos com queimaduras graves, nomeadamente os hospitais de Coimbra, D. Estefânia e Prelada. Não tínhamos conhecimento de que o S. José estava preparado para receber situações com esta gravidade", afirmou.
A menina de seis anos foi queimada num café da cidade do Porto quando, segundo testemunhas, vinha a correr da casa de banho e esbarrou numa empregada do café que transportava o óleo a ferver.