Mértola acolhe projecto pioneiro para combater erosão dos solos
Um projecto pioneiro de combate à desertificação está a ser desenvolvido em Mértola, Beja, até final do ano, em parceria com a região espanhola da Andaluzia, para o restauro ecológico das linhas de água temporárias.
A iniciativa, que tem como parceiros os serviços de Meio Ambiente da Junta da Andaluzia, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA) e a Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), iniciou-se em Janeiro e termina no final do ano.
Financiado pelo programa comunitário transfronteiriço INTERREG III, o projecto, segundo explicou hoje à agência Lusa Joana Reis, da ADPM, consiste na reabilitação ambiental de áreas em risco de desertificação, como é o caso do concelho de Mértola.
"Do lado português, o projecto incide no concelho de Mértola, numa área maioritariamente incluída no Parque Natural do Vale do Guadiana", realçou Joana Reis, engenheira ambiental na ADPM.
Neste âmbito, a iniciativa compreende o restauro ecológico e a valorização ambiental das linhas de água temporárias que, normalmente, durante a época das chuvas, se formam no concelho, como é o caso de pequenos ribeiros.
"Este assunto ainda não está muito estudado em Portugal, daí o projecto ser pioneiro e integrar acções-piloto, que podem ser importantes numa região afectada pela desertificação", frisou.
Segundo Joana Reis, as linhas de água intermitentes são responsáveis pelo arrastamento da terra, o que contribui para a erosão dos solos, podendo estes efeitos ser minimizados através do restauro ecológico dessas áreas.
"O primeiro passo do projecto, em curso, é a caracterização do terreno e das linhas de água existentes, para vermos quais precisam de ser intervencionadas e que tipo de acções terão de ser postas em prática", referiu.
Desobstrução desses cursos de água, nomeadamente com limpeza dos leitos e da vegetação, e a sua recuperação e restauro através da plantação de árvores nas margens, assim como a construção de muros ou taludes, são algumas das medidas que podem vir a ser decididas para cada caso concreto, depois da respectiva avaliação.
"São passos que ajudam a combater a erosão e que, além disso, também promovem a conservação e valorização ambiental, pois, essas linhas de água são muito importantes em termos de biodiversidade e constituem quase um nicho ecológico", disse.
Joana Reis sublinhou que o projecto vai possibilitar proteger e conservar as características ambientais e os ecossistemas específicos desses cursos de água, tanto ao nível da fauna como da flora.
Os promotores da iniciativa pretendem também sensibilizar a população local para esta temática, tendo Joana Reis realçado a importância de partilhar as demonstrações que forem realizadas no terreno.
"Os proprietários florestais, por exemplo, devem ser sensibilizados e ver, através deste projecto demonstrativo, que podem implementar acções de restauro ecológico nos seus terrenos e que, assim, terão vantagens", argumentou a técnica do gabinete de intervenção ambiental da ADPM.
De acordo com documentação disponibilizada à Lusa pela ADPM, este projecto surge da necessidade de adequar uma estratégia ao nível da bacia hidrográfica referente ao ordenamento, gestão e conservação dos ecossistemas fluviais.
A ideia é evidenciar as questões hidrológicas e biofísicas relacionadas com os regimes de caudais e a sua variabilidade, em função dos processos resultantes da dinâmica geomorfológica e ecológica ocorrida nas vertentes, leitos de cheia, corredores fluviais, margens e cursos de água.
Em termos de objectivos específicos, o projecto vai contribuir, nomeadamente, para a criação de uma base de dados comum, para o Alentejo e a Andaluzia, com informação georeferenciada (em ambiente de Sistema de Informação Geográfica) para a gestão e monitorização de bacias hidrográficas.