Militares portugueses no Líbano em alerta
Os militares portugueses em missão na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL) estão em estado de alerta para o primeiro aniversário do fim da invasão israelita do país dos cedros no passado Verão, que se assinala no dia 14.
O tenente-coronel José Rodrigues dos Santos, comandante dos 141 soldados da Unidade de Engenharia-2 estacionada na base de Ubique, em Shamaa, no sector oeste do sul do Líbano, declarou no terreno à Agência Lusa que "o nível de alerta é médio alto (amarelo-laranja), com medidas adicionais no nível vermelho para movimentos no exterior do aquartelamento".
O comandante precisou que, a este nível, "os movimentos terão de incluir um mínimo de duas viaturas, nunca isoladas e evitando rotinas".
Rodrigues dos Santos adiantou que a tropa deverá "usar capacete, colete à prova de bala e levar a arma carregada".
O estado de prevenção teve início a 24 de Julho, quando uma viatura armadilhada estacionada à beira da estrada e accionada por controlo remoto explodiu matando seis soldados (três espanhóis e outros tantos voluntários colombianos) e ferindo mais dois além de destruir os blindados em que seguiam.
Anteriormente, a 16 de Junho, um engenho explosivo com temporizador colocado na berma da estrada deflagrou à passagem de duas viaturas da Polícia Militar de uma unidade da Tanzânia, mas não fez feridos.
O tenente-coronel Rodrigues dos Santos insistiu em que a FINUL - onde Portugal tem 146 efectivos - é um alvo dos terroristas, segundo confissões obtidas em interrogatório a combatentes (mujaidines) capturados pelo exército libanês no campo de refugiados de Nahr el-Bared (norte, na zona de Tripoli).
Os confrontos entre terroristas do grupo Fatah a-Islam, apoiados por mujaidines, e o exército libanês começaram no campo de refugiados palestinianos de Nahr el-Bared a 20 de Maio e já mataram mais de 200 pessoas, das quais 133 soldados libaneses, provocando 31.000 refugiaddos.
Tendo em conta a data crítica do primeiro aniversário do fim da invasão israelita do sul do Líbano - entre 12 de Julho e 14 de Agosto de 2006, com um saldo de mais de 1.200 mortos -, ao que acresce a "ameaça" decorrente da escolha parlamentar do novo Presidente da República a 27 de Setembro, o comandante da unidade portuguesa admitiu o prolongamento do estado de prevenção pelo menos até ao Outono, tudo dependendo do modo como decorrer o processo eleitoral e das ordens do chefe da FINUL, o general italiano Cláudio Graziano.
A Unidade de Engenharia-2, que em Maio rendeu os dois primeiros pelotões portugueses da mesma Brigada Mecanizada enviados em Novembro de 2006, terminará a sua missão semestral também em Novembro.
A ofensiva israelita do ano passado, lançada na sequência do sequestro de dois dos seus soldados pelo Hezbollah - Partido de Deus (oposição), apoiado pela Síria e Irão -, deu-se depois de os xiitas radicais preencherem no sul do Líbano o vazio deixado pela retirada do exército judaico em 2000, que ocupara a zona durante a operação "Paz na Galileia", em 1982.
Em pleno coração da comunidade xiita libanesa, os militares portugueses - que de resto mantêm com ela "boas relações", elogiadas pelo próprio ministro da Defesa, Elias Murr - sentem uma "preocupação" adicional com os 12 campos de refugiados palestinianos no Líbano, segundo o tenente-coronel Rodrigues dos Santos, dos quais "o mais problemático" é Nahr el-Bared.
O comandante disse ter recebido informações de que "elementos (hostis) do campo de Ein el-Hilweh, próximo de Saída (Sídon), se transferiram mais para sul", precisamente para onde está a base de Ubique.
Embora esta base seja um "bunker" muito bem protegido e de as forças portuguesas não fazerem patrulhas, ainda que se desloquem no terreno, com frequência até ao vizinho quartel-general da FINUL em Naqoura (costa), Rodrigues dos Santos não escondeu o receio de minas, granadas, bombas, viaturas armadilhadas e "rockets" usados por seis grupos terroristas a operar no Líbano.
Mas o comandante deixou uma palavra final de optimismo: a Unidade de Engenharia-2 tem do seu lado "o apoio da população local e o elevado moral das tropas".