Ministro da Saúde quer conhecer espera para consultas nos hospitais e prolongá-las até 20:00

Algumas consultas de especialidade nos hospitais têm listas de espera de vários anos, um problema que levou o ministro da Saúde a determinar um levantamento da situação e a defender o seu prolongamento até às 20:00.

Agência LUSA /
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Em entrevista à Agência Lusa, António Correia de Campos reconheceu que o tempo de espera para algumas consultas de especialidade nos hospitais é demasiado longo e aponta o dedo à "cultura médica hospitalar", que "é contra a consulta externa".

Este não é o único factor que, na opinião do ministro da Saúde, contribui para as longas listas de espera para consultas de especialidade nos hospitais.

"Existe uma indisponibilidade de recursos e meios e a tradição de colocar na consulta externa, ou os velhos - os médicos mais antigos, que já não fazem urgência - ou os muito novos", disse.

Trata-se de uma "desvalorização do carácter altamente importante da consulta externa", acrescentou António Correia de Campos que já decidiu como vai começar a tentar melhorar o panorama das consultas de especialidade nos hospitais.

"Vou nomear uma pequena comissão que vai montar um sistema para colher toda a informação sobre consultas de especialidade dos hospitais e essa informação vai falar por si", disse.

António Correia de Campos defende que as consultas de especialidade sejam "um momento de excelência clínica" e que, depois de ser assistido no hospital, o utente possa ser acompanhado pelo seu médico, no centro de saúde, libertando assim o clínico hospitalar para mais primeiras consultas.

Isto porque, segundo o ministro, dos seis milhões de consultas hospitalares que são realizadas anualmente, apenas 25 a 35 por cento são primeiras consultas.

"Como os médicos [dos centros de saúde e dos hospitais] pouco têm falado uns com os outros, o doente fica completamente dependente da consulta hospitalar para continuar a ser acompanhado clinicamente".

Por seu lado, adiantou, o médico acompanha várias vezes o utente, ficando sem margem para atender novos doentes.

Actualmente, "as consultas externas hospitalares estão encharcadas com consultas subconsequentes, que podiam ser tratadas nos centros de saúde", disse.

O ministro tem outras ideias para resolver o problema das longas filas de espera para algumas especialidades nos hospitais, como prolongar o horário de funcionamento até às 20:00, o que "não acontece", embora "uma grande maioria já as realize até às 18:00".

António Correia de Campos vai, contudo, esperar pela avaliação desta comissão para começar a aplicar as medidas, reconhecendo que sabe das longas filas de espera.

Uma ronda realizada pela Lusa a algumas das especialidades mais procuradas nos hospitais portugueses confirmou a demorada espera.

Um utente que precise de uma consulta de oftalmologia no Hospital Dr. Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) vai ter de aguardar dois anos.

No mesmo hospital, a consulta de cardiologia obriga a uma espera de um ano e a de nefrologia entre seis e nove meses.

Uma consulta de oftalmologia no Hospital de Santa Maria só será possível a partir de Março do próximo ano (seis meses de espera) e para uma consulta de cardiologia o utente tem de esperar 16 meses.

No Hospital Garcia de Orta, em Almada, uma consulta de cardiologia só é possível a partir do próximo ano.

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