Modelo de policiamento do Euro 2004 foi um "sucesso" (Estudo internacional)

Uma presença policial pouco visível e a abordagem amigável com os adeptos, influenciado o seu comportamento, contribuíram para o "sucesso" do Euro 2004, revela um estudo internacional divulgado hoje sobre o sistema de policiamento durante o campeonato.

Agência LUSA /

"O sistema utilizado em Portugal criou um modelo para o policiamento de torneios internacionais no futuro", salienta o estudo, da autoria dos especialistas Otto Adang, da Escola de Polícia Holandesa, de Clifford Stout e de Martina Schreiber, ambos da Universidade de Liverpool.

Os três especialistas afirmaram que o sucesso da operação não se deveu à sorte, mas sim à estratégia e tácticas policiais utilizadas.

As tácticas utilizadas contribuíram para o "desenvolvimento de uma identidade comum no futebol" e para "dar poderes" aos comportamentos não violentos (auto-policiamento entre adeptos), frisou Otto Adang.

As "políticas de baixo perfil" adoptadas levaram a policiamentos equilibrados e percepcionados como legítimos pelos adeptos, disse, por seu turno, Clifford Stout.

A abordagem policial "impôs os limites comportamentais, que suportaram a identificação social não violenta e a auto-regulação dos adeptos", acrescentou o especialista inglês, considerando que a actuação da PSP foi uma acção que deu "grande mérito a Portugal".

"Foi preciso muita coragem para assumir este perfil de acção policial", salientou Otto Adang, fazendo eco de alguns comentários feitos por equipas internacionais, que salientaram ainda a "incrível acção da polícia não uniformizada".

Para tentar descrever a eficácia da polícia, Martina Schreiber leu o comentário de um adepto alemão: "Eles provocaram-nos e queriam começar uma luta. Mas antes de o conseguirem, os polícias à paisana, que estiveram lá sempre, detiveram-nos".

No entanto, apesar do sucesso da operação policial, Otto Adang alertou que muitas vezes o volume de interacção com os adeptos poderia ter criado situações de risco potenciais.

Durante o campeonato, que decorreu de 4 de Junho a 12 de Julho, apenas se registaram incidentes graves em Albufeira que levaram à detenção de adeptos ingleses.

Para os especialistas, estes incidentes poderão ter atingido maiores proporções devido à estratégia policial utilizada.

"A ausência de opções tácticas está associada com os incidentes de desordem em Albufeira", sustenta o documento.

Presente na divulgação do estudo, o secretário de Estado- adjunto da Administração Interna, Nuno Magalhães, sublinhou que o "modelo civilista" utilizado foi um "enorme sucesso e que permitiu ser um produto de exportação para outros países".

"Fomos capazes com o modelo civilista utilizado, em que as forças de segurança e a polícia estavam presentes, sobretudo numa perspectiva de cooperação e colaboração com os adeptos, ter um nível de incidentes quase nulo", frisou.

Nuno Magalhães revelou que vários países como a Alemanha, que organiza o Mundial de 2006, a Áustria e a Suíça, que organizam o Europeu 2008, e a África do Sul, que organiza o Mundial de 2010, já contactaram Portugal para importar este modelo de policiamento.

O director nacional adjunto da PSP, super-intendente chefe Chumbinho, descreveu que a intervenção policial durante o evento foi "graduada".

As forças de segurança começaram por acompanhar todo o percurso dos adeptos de uma forma colaborante e informativa. Depois e de acordo com o evoluir da situação, foi sempre graduando a vigilância e gerindo os potenciais criadores de violência que existem e estiveram em Portugal, sublinhou.

O estudo, divulgado hoje no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, em Lisboa, foi realizado a pedido da PSP pela Universidade de Liverpool em colaboração com a Academia de Polícia da Holanda e foi baseado na investigação prévia do Mundial 98, Euro 2000 e os jogos da Liga Campeões 2002-2004.


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