Moradores "expulsos" por causa do Alojamento Local

Moradores dos bairros históricos de Lisboa dizem estar a ser alvo de pressões por parte dos senhorios para deixarem as casas. A culpa, acreditam, é dos lucros que os proprietários podem vir a ter com o Alojamento Local. As autarquias estão a trabalhar na proteção dos residentes. A associação representante do setor acredita que, a médio prazo, esta tendência vai abrandar.

Filipa Marques Henriques, David Freitas, Carla Quirino, Paula Meira /
Graziela vive há 72 anos na Travessa dos Remédios, em Alfama, um dos bairros favoritos dos turistas que decidem visitar Lisboa. Mora numa vila, quase totalmente transformada em alojamento local.

Graziela queixa-se que, atualmente, os jovens que procuram casa nesta zona da cidade - à semelhança do que acontece com o seu neto mais novo - não conseguem habitação para arrendar, porque a maior parte é destinada ao turismo.

Nesta mesma vila onde mora Graziela, José Mariz abre-nos a porta de uma dessas casas. É proprietário da maior parte das unidades de alojamento local que aqui existem. Por ano, recebe cerca de 900 turistas.

José Mariz garante que aquele espaço, votado ao abandono, foi totalmente renovado antes de ser aberto ao arrendamento turístico. O mesmo aconteceu com a casa de Graziela e de outras duas pessoas que ainda ali moram, cujas habitações também foram reabilitadas.

No Bairro Alto mora Fernando, que não quis dar a cara por ter uma ação em tribunal para conseguir manter a casa onde sempre viveu.

Afirma que "o senhorio tem intentado uma série de formas de coação no sentido de recuperar o apartamento para, provavelmente, ter melhor benefício económico."
Problema para moradores e autarquias

A explosão do alojamento local no centro histórico da capital é também um problema para as autarquias locais, que todos os dias recebem queixas de moradores pressionados pelos senhorios a saírem das casas onde sempre viveram.

Decidiram, por isso, juntar-se pelos interesses de quem os elegeu e, em comunicado enviado às redações, exigem "uma maior regulamentação e legislação que limite a proliferação desmedida dos alojamentos locais e hostels".

Querem também "o fim do Licenciamento Zero para o Centro Histórico de Lisboa" e "a reposição do prazo legal de 15 anos para adaptação dos arrendatários com mais de 65 anos às alterações nos arrendamentos".

A Secretaria de Estado do Turismo garante estar a trabalhar em conjunto com associações de hotelaria e alojamento local no sentido de identificar problemas na legislação.

Raquel, que também mora no Bairro Alto, vive numa casa arrendada à família desde os tempos dos bisavós. Em breve vai ter que sair por já não poder renovar o contrato de arrendamento. Encontrar casa nesta zona de Lisboa é uma missão quase impossível.

No entanto, a Associação de Alojamento Local de Portugal (ALEP) acredita que este setor veio revitalizar as zonas históricas da capital.

Eduardo Miranda, presidente da ALEP, admite que, por mês, nascem em Lisboa cerca de 200 novos alojamentos locais. Miranda acredita que, a médio prazo, a atividade vai abrandar para dar lugar ao arrendamento tradicional.
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