Morreu Carranca Redondo, fabricante do Licor Beirão

O industrial José Carranca Redondo, que fabricava o Licor Beirão na Lousã, morreu hoje aos 89 anos, revelou um familiar à agência Lusa.

Agência LUSA /

O filho do empresário, José Oliveira Redondo, disse que o pai estava internado numa instituição particular de Miranda do Corvo e foi vitimado por uma embolia pulmonar, acabando por falecer no centro de saúde local, cerca das 11:30.

Nascido em 29 de Abril de 1916, Carranca Redondo foi pioneiro em Portugal da publicidade de estrada, em meados do século XX, e respondeu quase uma centena de vezes em tribunal devido a esta actividade, ganhando a maioria das disputas judiciais, dispensando a intervenção de advogados.

Nos anos 60, o empresário - republicano, ateu e anti-clerical -, tirando partido em termos publicitários da fama "amarga" de Salazar, espalhou de norte a sul do país um cartaz inteligente com uma frase equívoca sobre o seu licorÓ, "o Beirão de quem todos gostam!".

Segundo o próprio Carranca Redondo, o ditador de Santa Comba Dão, num inesperado gesto de bom humor, falou sobre o assunto com Sollari Allegro, membro do Governo e casado com uma senhora da Lousã.

"Há-de perguntar lá ao seu conterrâneo quem é esse Beirão de quem ele fala na publicidade", terá ordenado o líder do Estado Novo, num momento em que Sollari Allegro se preparava para ir passar um fim- de-semana com a família àquela vila do distrito de Coimbra.

Nos últimos 15 anos, a produção de Beirão subiu de 600 mil garrafas por ano para mais de dois milhões.

Uma parte significativa destina-se à exportação para vários países, incluindo para a Rússia, onde "o Licor de Portugal" começou a ser comercializado na última década, após o derrube do regime comunista e da subida ao poder de Ieltsin.

Carranca Redondo liderava o fabrico e comercialização do Beirão (cuja fórmula secreta terá nascido numa farmácia centenária da Lousã) há 65 anos, e só em fins de Maio último, na sequência de um acidente de viação sofrido próximo da destilaria, deixou de ir ao escritório, o que fazia diariamente pela manhã.

Sempre polémico e austero, José Carranca Redondo, apesar de assumir ao longo da vida a sua antipatia pelo clero e pela religião, fundou na Lousã o CDS, democrata-cristão, após o 25 de Abril de 1974, e presidiu posteriormente à Assembleia Municipal.

Há uma semana, imobilizado numa residência assistida da Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo, o industrial cumpriu aquela que terá sido a sua última promessa.

Ofereceu um computador portátil a um aluno, com deficiência motora, do sétimo ano da Escola EB 2/3 da Lousã.

O corpo de Carranca Redondo estará, a partir da tarde de hoje, na casa mortuária da Igreja Matriz da Lousã.

O funeral realiza-se quinta-feira, às 18:00, para o cemitério da vila.

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