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Mudanças na Educação e extinção da FCT. "Cosmética institucional", diz ex-ministro
Manuel Heitor, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior nos governos de António Costa, considera que as mudanças anunciadas pelo Governo no Ministério da Educação, no âmbito da reforma do estado, são, sobretudo, uma operação de "cosmética institucional".
Foto: José Sena Goulão - Lusa
Para o ex-ministro, os anúncios do Governo demonstram "extremo voluntarismo" e uma "eventual deriva para reforçar a relação com as empresas", mas, acrescenta Manuel Heitor, apontam ainda um caminho "mais grave" no plano do debate europeu sobre o investimento em ciência e no ensino superior.
"Esta alteração não me parece que seja consistente, até agora, com aquilo que é hoje o debate na Europa. Participei ativamente nesse debate europeu e coordenei um relatório para toda a Europa. Implica, eventualmente, a fusão a nível europeu de todas as agências para o financiamento da ciência - com o chamado European Research Council -, de uma forma que a ciência possa ser retirada do controle do défice público e, pelo contrário, a descentralização das agências de inovação para as regiões em estreita articulação com a nova política de coesão europeia", sinaliza.
Nesse sentido, Manuel Heitor conclui que a discussão no espaço europeu "não inspirou" uma "alteração de cosmética" feita pelo ministro Fernando Alexandre e pelo Governo: "Esta reforma não parece que esteja nada consistente nem de acordo com aquilo que é, hoje, o debate central na Europa".
Sistema fragmentado? "Nao concordo"
Questionado sobre as declarações do ministro da Educação, Ciência e Inovação, que defende que as mudanças anunciadas - e que incluem a extinção de várias entidades, entre as quais a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) - servem para mudar um sistema "fragmentado", o antigo governante discorda.
"Essa fragmentação não é real, não concordo e, mais uma vez, isto mostra um voluntarismo extremo. Não é fundindo serviços sem perceber a natureza intrínseca à própria administração pública, aos salários praticados. E, essa é a questão mais crítica hoje, a capacidade da administração pública de atrair quadros qualificados a níveis salariais adequados. Isso não se vê aqui", lamenta Manuel Heitor.
O ex-ministro do PS refere, no entanto, que é "normal que se façam reformas", mas insiste: "Não é apenas fundindo serviços que se resolve qualquer problema. Portanto, isto parece-me a mim não passar de uma cosmética, mas, mais uma vez, os detalhes são necessários para se perceber o que é que está em causa".