No Algarve a água subterrânea está mal aproveitada

por Agência LUSA

A água existente no subsolo algarvio está mal aproveitada e devia integrar os sistemas públicos de abastecimento, com base numa gestão integrada das origens superficiais e subterrâneas, defendeu hoje um especialista em hidrogeologia.

Luís Ribeiro, professor do Instituto Superior Técnico, sublinhou que existe água subterrânea em abundância no Algarve e lembrou a importância do aquífero de Querença-Silves para o abastecimento da região durante a seca de 2005, sublinhando que os receios de salinização foram exagerados.

"Este aquífero tem grandes disponibilidades hídricas. Nessa altura, respondeu muito bem às necessidades e mostrou que os riscos de salinização eram muito menores do que se esperava", afirmou Luís Ribeiro que participa sexta-feira num debate sobre "Água Subterrânea no Algarve" no Instituto Superior Técnico (Lisboa).

A extracção de água não foi problemática "porque choveu e houve um aumento de recarga significativo".

O engenheiro defende que os sistemas de aquíferos (águas subterrâneas) devem ser integrados no abastecimento público, para evitar que a gestão de água se baseie exclusivamente nas albufeiras.

"As albufeiras não deram resposta durante a seca. Foi uma lição importa nte para se perceber que era necessário mudar esta política porque não podemos e star só dependentes das origens superficiais".

Além disso, a água dos aquíferos - acrescentou - apresenta muitas vezes melhor qualidade do que a das albufeiras, apesar de existirem algumas zonas com problemas de contaminação por cloretos (salinização) e nitratos (devido ao uso de fertilizantes agrícolas).

É o caso dos sistemas de Campina de Faro e Luz de Tavira e de alguns aq uíferos mais próximos das zonas costeiras.

O importante, sublinhou o especialista, é assegurar que se faz uma gest ão correcta das captações.

Estas não devem estar todas concentradas no mesmo local, para não causa r um rebaixamento excessivo dos níveis freáticos (lençóis de água).

"Querença-Silves tem cerca de 300 quilómetros quadrados de extensão. É possível fazer uma exploração racionalmente distribuída".

O importante é "nunca extrair mais do que entra. Nalgumas zonas, a prec ipitação permite recargas de 40 a 50 por cento que alimentam os aquíferos".

Luís Ribeiro lançou também um alerta para o controlo das más práticas a grícolas.

"A má prática de rega, por exemplo, causa um aumento significativo da c oncentração de nitratos que contaminam a água".

O aproveitamento da água do subsolo deveria ser generalizado a todo o p aís.

"Temos grandes disponibilidades hídricas na bacia Tejo-Sado, uma enorme albufeira subterrânea, em Leiria e Pombal", exemplificou o investigador, adiant ando que os sistemas estão bem estudados e que os modelos matemáticos ajudam a p rever os impactos sobre a extracção de água.

O Instituto Superior Técnico dedicou toda a semana à água do subsolo po rtuguês, com uma exposição, conferências, filmes e uma visita, subordinado aos a o tema.

O ciclo termina sábado, com uma visita ao bairro de Alfama para mostrar o subsolo rico em água deste bairro.

à sua qualidade, abundância e temperatura não ficou estranho o povo muç ulmano que atribuiu à zona o único nome possível - Al-hama, sinónimo de fonte de água quente ou nascente termal.

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