Novo bispo coadjutor de Vila Real preocupado com a desertificação do Interior do país

Vila Real, 10 Fev (Lusa) - O bispo coadjutor de Vila Real, que hoje assumiu oficialmente funções, revelou preocupações relacionadas com a desertificação do Interior e defendeu uma mudança na estratégia pastoral devido à falta de sacerdotes, os quais, actualmente, têm que se desdobrar por várias paróquias.

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

O sacerdote defendeu a promoção de políticas "inteligentes e criativas" para "parar a hemorragia" das pessoas que migram para o Litoral e para as grandes cidades.

D. Amândio Tomás foi nomeado para este novo cargo na sequência de doença grave, do foro cardíaco, do bispo titular, D. Joaquim Gonçalves.

Hoje, em Vila Real, realizou-se a recepção solene do novo bispo coadjutor da diocese transmontana, uma cerimónia que contou com a presença de 15 bispos provenientes de todo o país, dezenas de padres e centenas de populares.

D.Amândio Tomás é natural da diocese de Vila Real e revelou, em declarações à imprensa, preocupações com a desertificação que atinge o Interior do país.

"Há toda a vantagem em criar um Portugal harmónico. As pessoas não vão para o litoral por mero e puro prazer, mas por necessidades de ordem económica. Por isso, se lhes proporcionarmos postos de trabalho com certeza elas fixar-se-ão", salientou.

A diocese de Vila Real foi criada em 1922, contando, actualmente, com 130 sacerdotes, 30 dos quais trabalham nas secções ou já estão reformados. Dezassete padres têm mais de 75 anos e com menos de 50 anos existem 40 sacerdotes.

Os restantes 100 espalham-se pelas paróquias, havendo uma média de quatro paróquias para cada padre (264 no total).

D.Amândio Tomás reconhece a "falta de sacerdotes" mas considera que, ao se falar de vocações ao sacerdócio e à vida religiosa, têm que se enquadrar essa temática "na vocação em geral".

"Todos são chamados à Santidade, à prática de justiça e a uma vida verdadeira. Ninguém é excluído, a Igreja é de todos, é obra de Deus e é de todos os que nela colaboram, padres, bispos, religiosos e leigos. Por isso nós podíamos ter uma multidão de padres mas se não tivermos fiéis, verdadeiramente cristãos, não temos igreja", frisou.

Acrescentou ainda que, para que "possa haver mais sacerdotes também tem que haver um envolvimento de toda a comunidade cristã, das famílias ou das paróquias".

O bispo coadjutor defende "uma mudança na estratégia pastoral".

"Há uma grande sobrecarga porque nós insistimos muito em serviços religiosos, em sacramentos, em muitas missas, e precisamos muito menos de missas rezadas à pressa, de sacramentos ministrados e recebidos por motivos fúteis e onde falta consciência", frisou.

Para Amândio Tomás "é preciso mais catequese, mais evangelização, missionarismo, mais formação das pessoas e das consciências".

"Precisamos de leigos, de homens e mulheres, de diáconos, de agentes da pastoral que, nas pequenas comunidades, assegurem serviços tais como a celebração da palavra, rezas do terço. Depois os padres virão colmatar o serviço celebrando, de vez em quando, a eucaristia", sublinhou.

D.Joaquim Gonçalves foi sujeito a um transplante de coração, encontrando-se a recuperar na Casa Episcopal de Coimbra.

Ainda não se sabe se D. Joaquim irá resignar, mas, caso isso aconteça, D. Amândio passará de imediato a titular, tornando-se no quinto bispo da diocese e, nessa qualidade, o primeiro natural da mesma.

Os três últimos bispos de Vila Real foram todos coadjutores dos anteriores.


PUB