Novo tratamento para a infertilidade traz esperança a milhares de casais
Um estudo sobre fertilização "in vitro" demonstrou que se conseguem mais gravidezes de sucesso através de tratamentos com menotrofina (hormona humana) do que através de terapias com recombinantes (hormonas de origem genética), foi hoje divulgado.
O estudo, denominado "MERiT - Menotrophin vs Recombinant FSH `in vitro` Fertilisation Trial", da autoria do investigador clínico Andres Nyboe, foi apresentado em meados de Junho no Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Copenhaga, Dinamarca.
Em cada 100 mulheres tratadas com estes dois tipos de hormonas, foi possível demonstrar que mais cinco ficaram grávidas recebendo a menotrofina do que aquelas que foram tratadas com recombinantes.
A médica Isabel Reis, que esteve presente no congresso, afirmou à Lusa que este estudo demonstra que, comparando mulheres tratadas com menotrofina com mulheres tratadas com recombinantes (hormona de origem genética), 27 por cento das primeiras conseguiram uma gravidez "evolutiva" (de sucesso), enquanto apenas 22 por cento das segundas alcançaram a tão desejada gestação.
"Nas mulheres tratadas com menotrofina houve menos perdas de gravidez (aborto) do que naquelas em que se aplicou a outra hormona (recombinantes)", afirmou a responsável pela unidade de Medicina da Reprodução do Hospital de Guimarães, acrescentando que a percentagem se cifrou em 32 por cento contra 24 por cento.
De acordo com o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR), João Silva Carvalho, estima-se que em Portugal haja cerca de 500 mil casais inférteis, o que representará entre 10 a 15 por cento da população, e esta percentagem tem tendência para aumentar.
"É uma verdadeira doença que se encontra em ascensão de frequência", alerta o especialista, referindo que os cálculos são de dez mil novos casos por ano.
Para a realização do estudo MERiT, que conclui haver um menor risco de aborto com tratamentos à base de menotrofina do que à base de recombinantes, foram seleccionadas aleatoriamente, em 10 países europeus, 731 mulheres para uma hiperestimulação de ovários em fertilização "in vitro".
O tratamento com menotrofina foi administrado a 363 mulheres, enquanto 368 receberam as recombinantes e, em ambas as situações, a medicação foi administrada através de injecção subcutânea.
Este tratamento resulta da produção de uma maior quantidade de embriões de qualidade em conjunto com uma capacidade melhorada de implantação e estabelecimento de uma gravidez.
O tratamento actua através do aumento do número e qualidade de óvulos na mulher, sendo que, quanto melhor for a qualidade do óvulo, mais probabilidades existem de se obter uma gravidez de sucesso.
Segundo Isabel Reis, além deste tratamento ser, de facto, uma nova esperança para a infertilidade, é também bem mais económico do que o tratamento com hormonas recombinantes.
Exemplificou que, enquanto o tratamento de dois dias com menotrofina custa cerca de 50 euros, a utilização de recombinantes durante o mesmo período de tempo tem um custo de cerca de 150 euros, "sendo sempre necessários entre 10 a 15 dias de tratamento".
"A correr bem, acrescentou, só em termos de medicação, o tratamento com menotrofina custa cerca de metade da terapia administrada com recombinantes", disse, lembrando que a fertilização "in vitro" só se faz em "último caso", quando os tratamentos médico e cirúrgico não resultam.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), um casal tem problemas de fertilidade quando, após dois anos de actividade sexual sem utilização de métodos contraceptivos, não ocorre uma gravidez.
Em Portugal, segundo a SPMR, recomenda-se que o casal procure ajuda especializada se não tiver havido gravidez ao fim de dois anos ou ao fim de um ano se a mulher tiver mais de 30 anos.
Isabel Reis acrescentou à Lusa que a taxa de sucesso nos tratamentos de fertilização "in vitro" ronda os 30 e os 35 por cento.
A especialista não tem dúvidas que esta "doença é muito penosa e muito desgastante em termos psicológicos" para os casais, contudo, salientou que, quando os casais conseguem uma gravidez com sucesso "é muito gratificante".
De acordo com a sua experiência, o desespero dos casais inférteis é tal que estes acabam por percorrer todas as clínicas e hospitais que fazem tratamentos para a infertilidade para ver se conseguem ter o tão desejado filho.
No Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães, disse, a lista de espera para uma consulta de infertilidade é de três meses, mas, depois de ser feito um estudo ao casal, a espera para dar início ao tratamento varia entre os quatro a seis meses.