Quase 2.600 crianças e jovens vítimas de crime e violência foram apoiados em 2022 pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), mais 32% do que no ano anterior, disse à Lusa fonte da instituição.
Carla Ferreira, assessora técnica da direção da APAV, destacou que muitas destas 2.595 crianças foram vítimas de vários tipos de violência diferentes, ou seja, o número de crimes cometidos contra os menores de idade é mais elevado do que o número das vítimas apoiadas pela APAV no ano passado.
“Temos mais crimes do que crianças vítimas, o que significa que há crianças que são vítimas de várias situações de violência diferentes, o que também é importante destacar. (…). A violência doméstica pode levar-nos para situações de violência física, psicológica, mas também, por exemplo, situações de violência sexual, assim como o 'bullying'”, explicou a especialista.
Questionada pela Lusa sobre se as notícias sobre abusos sexuais na Igreja podem ter encorajado as pessoas a fazerem mais denúncias, Carla Ferreira admitiu que esse fator pode ter levado a “uma maior consciencialização da importância de estas situações serem desocultadas”.
Os dados do recente estudo da APAV indicam que mais de metade das crianças e jovens vítimas 55,3% (1.434 casos) tinham entre os 11 e os 17 anos de idade, dando uma média de idade de 10 anos.
Haver mais casos de vítimas entre os 11 e 17 anos explica-se com a capacidade que a própria criança e ou jovem tem, ou não tem, de identificar uma situação de violência e conseguir verbalizá-la, fazendo o pedido de ajuda a pessoas que valorizem o pedido.
As crianças de quatro a cinco anos e os bebés têm mais dificuldade em verbalizar e identificar situações de violência, por isso os números de casos diminuem, o que não significa que não exista crime e violência contra essas crianças menores, justificou.
A segunda faixa etária em que se registaram mais casos de crime e/ou violência é entre os seis e os 10 anos de idade (25,7%), seguida dos zero aos três anos (11,7%), e depois entre os quatro aos cinco anos (7,3%).
Dados complementares
Faro é o distrito de Portugal com maior prevalência de crianças e jovens vítimas de crime e violência em 2022, com 674 casos, seguido de Lisboa e de Braga revelou a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
O estudo revela também que quase um terço (31,6%) das crianças e jovens vítimas de crime e de violência que apoiou em 2022 são filhos dos autores dos crimes.
Segundo a APAV, o "bullying" presencial, com discriminação e injúria, e o "cyberbullying" através das redes sociais, são fenómenos que estão a evoluir no contexto escolar com agressores a criarem perfis falsos em plataformas como o Discord, Instagram ou Twitter para divulgar informação falsa.
As crianças e jovens vítimas de violência doméstica acompanhados pelas Respostas de Acompanhamento Psicológico (RAP) poderão ficar este mês sem apoio psicoterapêutico por falta de financiamento, alertou hoje a coordenadora da RAP do Porto.
“Há um risco de algumas destas respostas RAP encerrarem, designadamente a do Porto”, declarou Ilda Afonso, em declarações à Lusa no âmbito do Dia Mundial da Criança, que se celebra esta quinta-feira.
Criadas pelo Governo em 2021, as cerca de três dezenas de RAP existentes no país visam promover o atendimento, acompanhamento e apoio psicológico especializado a crianças e jovens vítimas de violência doméstica e violência de género.
“Há um risco de algumas destas respostas RAP encerrarem, designadamente a do Porto”, declarou Ilda Afonso, em declarações à Lusa no âmbito do Dia Mundial da Criança, que se celebra esta quinta-feira.
Criadas pelo Governo em 2021, as cerca de três dezenas de RAP existentes no país visam promover o atendimento, acompanhamento e apoio psicológico especializado a crianças e jovens vítimas de violência doméstica e violência de género.