O culpado da polémica dos voos da CIA é Durão Barroso (Manuel Alegre)
O deputado socialista Manuel Alegre argumentou que o culpado da polémica dos voos da CIA em Portugal é o ex-primeiro-ministro português e presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, por ter apoiado a invasão do Iraque.
"Isto começou com o Iraque e com aquela triste Cimeira das Lajes em que o doutor Durão Barroso pôs Portugal do lado errado do mapa político", defendeu Manuel Alegre, em entrevista à agência Lusa, lamentando "a maneira como tem sido tratado este problema dos voos da CIA que passaram por Portugal".
"Tem-se esquecido a origem da história, que é a Cimeira das Lajes e a p osição que o então primeiro-ministro doutor Durão Barroso tomou. Ele sai incólum e e absolvido disto tudo quando eu penso que a história começa nele", reforçou o ex-candidato independente a Belém.
De acordo com o deputado do PS e vice-presidente da Assembleia da Repúb lica, "Portugal prestou pouca atenção ao assunto, as entidades prestaram pouca a tenção" e "o Presidente da República tem também aí uma palavra, é possível que a tenha dito, em público não disse".
"Talvez eu tivesse tido outro tipo de intervenção se fosse Presidente, mas também não tenho os dados todos", referiu Manuel Alegre, considerando que "o assunto tem sido mal esclarecido e mal conduzido e tem sido muito fulanizado".
"Está a passar como uma questão pessoal entre a doutora Ana Gomes e o m inistro dos Negócios Estrangeiros, quando é uma questão de soberania nacional e de direitos humanos", lamentou, ressalvando contudo que lhe custa a admitir "que tenha havido cumplicidade" das autoridades nacionais.
"Deste Governo não houve de certeza. Também me custa a admitir que do o utro tivesse havido", declarou.
Sobre a discussão no PS sobre corrupção, Alegre considerou que "João Cr avinho teve o mérito de pôr a corrupção na agenda política e mediática" mas que não é o único empenhado nesse combate e que foram exagerados os relatos das dive rgências com a bancada socialista.
"Sou amigo do João Cravinho" mas "também sou amigo de outras pessoas en volvidas, como o Alberto Martins e o Vera Jardim, que são de uma absoluta integr idade e estão tão empenhadas como o João Cravinho ou eu próprio e como outros no combate à corrupção", disse.
"A verdade, tanto quando estou informado, é que o grupo parlamentar age ndou sete propostas de João Cravinho e ele deixou cair uma, a do enriquecimento ilícito, que, se há inversão do ónus da prova, é inconstitucional", sublinhou.
Alegre adiantou que concorda com Cravinho que a Assembleia da República deve ter "um papel de fiscalização e de pedir resultados" sobre o combate à cor rupção, que porventura "poderá ser desempenhado pela Comissão de Assuntos Consti tucionais".
"Mas faltam outras coisas. Tenho muitas dúvidas de que pessoas pronunci adas definitivamente possam candidatar-se a cargos políticos e penso que pessoas que cometam abusos no financiamento partidário devem perder imediatamente o seu mandato", revelou.
Alegre poderá apresentar diplomas nesse sentido porque "a malha deve se r mais apertada" e alertou o líder parlamentar, Alberto Martins, para o assunto, mas está ainda a reflectir porque quer "compatibilizar isso com o que está na C onstituição e no direito".
Na entrevista à agência Lusa, o deputado queixou-se da cobertura da cam panha do aborto pela RTP, que na sua opinião "não tem sido muito neutra", e sust entou que o "sim" perdeu o referendo de 1998 "não por excessos mas por míngua, p ela confusão e divisão do PS".
"Estou indignado, tal como o meu amigo Jorge Sampaio, com a intolerânci a de algumas pessoas", declarou ainda, referindo-se aos defensores do "não" que "comparam a interrupção da gravidez nas primeiras dez semanas à pena capital ou à execução de Saddam Hussein".