OMS sinaliza suicídios, hepatite C e poucos médicos nas prisões portuguesas

A Organização Mundial da Saúde está preocupada com a taxa de suicídios nas prisões portuguesas, mostra um relatório conhecido esta quarta-feira. Em 2020, suicidaram-se em Portugal 21 reclusos. O trabalho da estrutura assinala ainda a prevalência da hepatite C e o facto de o país dispor de apenas 33 médicos para 49 cadeias.

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Em 2020, suicidaram-se em Portugal 21 reclusos Miguel A. Lopes - Lusa (arquivo)

O relatório, apresentado em Lisboa, revela ainda que não chega a dez por cento o número de reclusos portugueses com hepatite C que tiveram acesso a tratamento. É a doença com maior prevalência nas prisões, afetando 11.412 presos, ou seja, 8,5 por cento da população prisional.

A partir de dados de 2020, o estudo da OMS aponta para um rácio de 2,9 médicos para cada mil reclusos em Portugal, ao passo que, na população em geral, esse rácio é de 5,3.

O número de enfermeiros ligados ao sistema prisional era de 318 em 2020, o que se traduz num rácio de 27,9 por mil reclusos, acima do rácio de 7,1 enfermeiros para a população em geral.
No que diz respeito a psiquiatras, o relatório sinaliza 19 nas prisões portuguesas, num rácio de 1,7 por cada mil reclusos, superior aos 0,1 para a população em geral.

Já o número de dentistas não vai além dos 12 no sistema prisional, sendo o rácio de 1,1 igual entre as populações em geral e prisional.

Portugal apresenta um total de 382 profissionais de saúde ligados aos estabelecimentos prisionais, um rácio de 33,5 por cada mil reclusos.
O Governo formou entretanto um grupo de trabalho com a missão de preparar um Plano Operacional para a Saúde no Sistema Prisional. O objetivo declarado é “reforçar o acesso aos cuidados de saúde, identificar barreiras subsistentes e colmatar lacunas relativas à prevenção, acesso e continuidade de cuidados”, lê-se em comunicado conjunto dos ministérios da Saúde, da Justiça e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Este estudo compila números de 36 países da região europeia da OMS e reporta a 2020, retratando as ações em ambiente prisional no ano da explosão da pandemia da covid-19.

O relatório – segundo do género a ser trabalhado pela OMS - visa orientar a ação governamental para a garantia do direito de acesso à saúde e melhoria dos indicadores nas cadeias.

Em território português, a análise foi coordenada na Direção-Geral da Saúde e na Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais. Já os dados a nível europeu contaram com o contributo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Centro Colaborador da OMS.
Vacinas, doenças infecciosas e cancro
Quanto à distribuição de vacinas entre a população prisional, apenas as proteções contra a hepatite A e a vacina meningocócica não estão disponíveis. A vacina contra o papilomavírus humano é disponibilizada numa minoria das prisões.

Relativamente a rastreios de doenças infecciosas, as cadeias portuguesas seguem um modelo em que o recluso pode recusar o rastreio-padrão, designadamente para o VIH e as hepatites B e C. Só o rastreio de doenças sexualmente transmissíveis é realizado com base na avaliação de risco.

Para as doenças oncológicas, o relatório assinala uma concentração dos rastreios na população feminina, disponibilizando-se o rastreio do cancro do colo do útero e do cancro da mama. Tal não aconteceu com o cancro do cólon, ao contrário de 58 por cento dos Estados europeus observados pela OMS.Os ministérios da Saúde, da Justiça e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior são os anfitriões, em Portugal, da iniciativa da Organização Mundial da Saúde. O relatório será também apresentado quinta-feira no Porto.

Portugal regista um défice de informação sobre reclusos que receberam ou completaram tratamento nos 12 meses em análise, face à ausência de dados relativamente à tuberculose multirresistente, hepatite B, DST, saúde oral e mental, consumo de drogas, diabetes, cancro, hipertensão e doenças cardiovasculares.

As respostas coligidas reportam-se ao VIH, com 386 reclusos em tratamento, tuberculose (76 reclusos) e hepatite C (81).

Ainda segundo o relatório da OMS, as prisões do país tinham, em 2020, 11.412 reclusos - 10.616 homens e 796 mulheres. A taxa de ocupação dos estabelecimentos prisionais era de 90,6 por cento, contra 114 por cento em 2016.

c/ Lusa
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