Onze pessoas mudaram de sexo nos Hospitais de Coimbra no último ano

Coimbra, 21 nov (Lusa) -- Onze pessoas mudaram de sexo, desde outubro de 2011, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), dez das quais de mulher para homem, revelou hoje Celso Cruzeiro, diretor da Unidade responsável pelo tratamento.

Lusa /

Das 11 pessoas tratadas, cinco já concluíram as respetivas terapêuticas, designadamente vaginoplastia (caso de mudança de sexo de homem para mulher), e mastectomia, histerectomia, vaginectomia e reconstrução de pénis (nas situações inversas), adiantou o diretor da Unidade Reconstrutiva Genito-Urinária e Sexual (URGUS) do CHUC.

Esta Unidade, que integra as especialidades de psiquiatria, psicologia, endocrinologia, cirurgia plástica, sexologia, urologia e ginecologia, possui 46 pessoas em tratamento, 12 das quais "para cirurgia", sendo que, entre estas, cinco "estão preparadas" para as respetivas intervenções, que, no conjunto, implicam uma mastectomia, duas mamoplastias e duas faloplastias.

O diretor da URGUS falava hoje, nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC/CHUC), numa conferência de imprensa para divulgar "o trabalho realizado" por esta unidade, desde que, em outubro de 2011, começou a funcionar, e em que também participaram o presidente do conselho de administração do CHUC e os diretores das especialidades envolvidas na unidade.

Na URGUS estão registados "110 doentes com perturbações de identidade de género", dos quais "36 já foram avaliados endocrinologicamente", disse Margarida Bastos, diretora dos Serviços de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo dos HUC/CHUC.

As idades daquelas 36 pessoas variam entre os 15 e os 60 anos, para uma média de idades de 24 anos, acrescentou a médica, adiantando que as "perturbações de identidade de género de masculino para feminino" afetam 31% dos doentes, representando os restantes 69% de casos perturbações de identidade no sentido inverso.

"Não há discriminação de estrato social nem de idade, embora seja mais prevalente nas idades mais jovens", afirmou Margarida Bastos, apontando que "a causa é desconhecida", sendo, porém, admissível a existência de "uma alteração na diferenciação sexual do sistema nervoso central", que leva à "alteração da identidade sexual".

Processo complexo e longo, o tratamento destas situações implica "uma abordagem multidisciplinar", a qual, "de resto, é essencial para o sucesso da terapêutica", salientou o diretor da URGUS e cirurgião plástico Celso Cruzeiro.

"A componente cirúrgica é apenas uma das vertentes do tratamento destes doentes" e a "cirurgia plástica aplica os seus princípios fundamentais, com o objetivo de modelar o corpo e adaptá-lo estética e funcionalmente ao sexo pretendido", explicitou.

A URGUS surgiu na sequência de um "repto, lançado pela ministra da Saúde Ana Jorge, aos HUC", que "acharam por bem assumir essa responsabilidade [responder a doentes com problemas de diferenciação de género], pois possuem conhecimento e capacidade instalada para isso", recordou Celso Cruzeiro.

"Resultado de uma ideia que se transformou em realidade", a URGUS é, hoje, "um projeto consolidado", sustentou Martins Nunes, presidente do conselho de administração do CHUC.

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