Operação "rigor mortis". PJ deteve médicos e agentes funerários em Bragança

por RTP
Rui Cardoso - RTP

A Polícia Judiciária deteve nove pessoas em Bragança. São dois médicos e sete agentes funerários da região, suspeitos dos crimes de recebimento indevido de vantagem, corrupção, falsificação de documento e falsidade informática. Em causa, a emissão de certificados de óbito sem os delegados de saúde praticarem as funções médicas exigidas, em troca de dinheiro. A PJ diz que estava em causa o "princípio de segurança" no sistema, sem que fossem apurados eventuais indícios criminais.

Um dos médicos detido é o presidente dos Bombeiros Voluntários de Bragança, José Moreno, que é há vários anos diretor clínico do Desportivo de Bragança, membro da Assembleia Municipal e Presidente da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia local.

Os médicos envolvidos terão certificado a morte de centenas de pessoas à distância, a maioria das quais idosas que viviam nas aldeias, sem apurar se havia ou não indícios de crime.

A investigação, que decorreu ontem pela mão do DIAP do Porto em várias localidades do município de Bragança, “teve por objeto a averiguação da intervenção de dois médicos que, enquanto autoridades de saúde (delegados de saúde), terão emitido e entregue a agentes funerários várias dezenas de certificados de óbito e respetivas guias de transporte de cadáveres, sem praticarem os atos médicos que lhes competia legalmente e mediante contrapartida financeira”, refere a PJ.

O esquema já funcionava há "muitos meses" e envolvia "uma boa parte" das agências funerárias do município de Bragança.
António Torgano, coordenador da Polícia Judiciária de Vila Real, realça que o “princípio de segurança” no sistema de saúde fica posto em causa. O responsável admite que o esquema colocava em risco uma eventual averiguação sobre eventual interferência de terceiros numa morte, dando o exemplo de um envenenamento, que não deixa marcas visíveis nos cadáveres.

O responsável da PJ admite que há mais pessoas envolvidas e que as diligências continuam, mas adianta que não estão previstas mais detenções por agora.

António Torgano escusou-se a revelar qual o valor recebido pelos delegados de saúde por cada certificado de óbito, pagos pelas agências funerárias.

Foram realizadas 29 buscas domiciliárias e não domiciliárias e detidas nove pessoas, seis homens e três mulheres, com idades compreendidas entre os 38 e os 67 anos, suspeitos da autoria dos crimes de recebimento indevido de vantagem, corrupção, falsificação de documento e falsidade informática, revela a Polícia Judiciária em comunicado.

Os nove detidos serão presentes hoje a um juiz de instrução criminal no Porto.


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