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Os 55 anos do Metro de Lisboa

por Cristina Sambado e Sara Piteira, RTP
Metro de Lisboa celebra 55 anos Frederico Claudino, RTP

A cidade de Lisboa possui uma rede de Metro desde 1959. No entanto, o empreendimento que demorou mais de um século a ganhar forma passou por vários projetos utópicos. Foi um processo polémico, que começou no reinado de D. Luís e desencadeou debates e paixões. No mundo, eram poucas as cidades que já possuíam este transporte coletivo. A primeira cidade a inaugurar a rede de metropolitano foi Londres, a 10 de janeiro de 1863.

A primeira proposta para construir um metropolitano de Lisboa surge em 1855 e previa a um traçado que ligasse Santa Apolónia a Algés, com passagem pelo Rossio, São Bento, Janelas Verdes e Alcântara. O custo do empreendimento estava orçado em 500$000 reis por metro corrente de túnel. A proposta não avançou.

Ilustração Portugueza

Em maio de 1888 é apresentado pelo Engenheiro Militar Henrique Lima e Cunha à Associação dos Engenheiros Civis Portugueses um novo projeto para o metropolitano. Por razões económicas, o projeto que previa uma extensão de 14 quilómetros com cerca de 14 estações, passando pelas freguesias mais populosas da cidade de Lisboa (Alcântara, Rato, Largo do Intendente e Cais dos Soldados), não foi aprovado. 

Ilustração Portugueza - 1888
Trinta e quatro anos depois
A 16 de maio de 1922 três comerciantes moradores em Lisboa interessados na concessão do metro entregam na Câmara Municipal um requerimento onde propõem desenvolver, a expensas próprias, os estudos e orçamentos necessários. A proposta previa que a rede do metropolitano fosse constituída por duas linhas de via dupla subterrâneas que iriam de Alcântara ao Rossio e de Alcântara ao Caminho-de-Ferro. A rede, com um total de 8,6 quilómetros, teria 11 estações com capacidade para composições de quatro carruagens. A via férrea deveria ter a mesma bitola dos elétricos que já circulavam na capital, de forma a permitir a circulação do metro nas linhas da Carris. Mais uma proposta que não avançou.

No entanto, dois anos mais tarde, quando a construção de uma rede de metropolitano parecia já um dado irreversível, a Câmara Municipal de Lisboa presidida por Agostinho Inácio da Conceição Estrela lança um concurso público destinado à concessão e exploração de uma rede de metropolitano. O projeto - o mais complexo até à altura - passava pela construção de oito linhas com um total de 26,8 quilómetros. É entregue à única proposta que entrou, da autoria de dois madrilenos. Mas o projeto acabaria por ser anulado, devido a uma divergência de critérios propostos para a concessão.

No início de 1925 é lançado um novo concurso e em abril do mesmo ano a autarquia de Lisboa, entretanto presidida por Albano Augusto de Portugal Durão, aprova a adjudicação aos madrilenos. O estudo económico e financeiro partia do pressuposto de que seria possível que a rede de metropolitano conseguisse transportar por ano e por quilómetro de via dupla cinco milhões de passageiros.

Albano Augusto de Portugal Durão

No entanto, em 1926, depois de a Câmara de Lisboa ter indeferido um requerimento entregue pelos espanhóis onde os concessionários do metropolitano sugeriam alterações ao contrato, a sociedade madrilena informa que desiste do processo de construção de uma rede de metropolitano.

Até 1945 a construção de uma rede de metropolitano em Lisboa parece ter ficado esquecida. Mas nesse ano são apresentadas mais três propostas para a construção da rede.
Sonho transforma-se em realidade
No final da II Guerra Mundial, perante a retoma da economia e a ajuda do Plano Marshall, surge novamente a ideia de se construir uma rede de metropolitano em Lisboa. E a 26 de janeiro de 1948 é lavrada a escritura de constituição de uma nova sociedade, Metropolitano de Lisboa, S.A.R.L, bem como a escritura de concessão à Sociedade do exclusivo do estudo técnico e económico do Metropolitano. A 1 de julho de 1949 é outorgada a concessão para a instalação e exploração do respetivo serviço público.



Em 1950, os projetos das obras do Metro no que respeita a galerias, estações, montagem de via, instalações de ventilação e abastecimento de energia e de sinalização prosseguem e, no final do ano, é aprovado oficialmente o projeto do troço entre Sete Rios (hoje Jardim Zoológico) e Rotunda (agora Marquês de Pombal), assim como o ramal das oficinas.



Em setembro de 1954, o Engenheiro Francisco de Mello e Castro é nomeado presidente do Metro (cargo que desempenhou até ao final de agosto de 1972). E no dia 18 é aberto o concurso para adjudicação das obras, material circulante e instalações fixas. As propostas são abertas em dezembro e conduzem a um encargo total de 196 mil contos.



Sete anos decorridos desde os estudos preliminares, a 11 de julho de 1955 procede-se à assinatura dos contratos referentes à execução do primeiro escalão da rede do Metropolitano de Lisboa. E a 1 de agosto arrancam os trabalhos de construção do Metro.



Em 1957, devido ao interesse da população, o Metro inicia a edição de folhetos intitulados “Manual do Mirone”, onde constavam as características do futuro metropolitano e os métodos de construção.



Quatro anos depois do arranque das obras e mais um século depois da primeira proposta, as obras do Metropolitano de Lisboa ficam praticamente concluídas e é testado o novo meio de transporte da capital. A primeira geração de material circulante foi a ML70. O primeiro troço da rede teve como arquiteto Keil do Amaral e a intervenção plástica da artista Maria Keil do Amaral, com exceção da estação da Avenida que foi intervencionada por Rogério Ribeiro.



A 29 de dezembro de 1959 assiste-se à inauguração oficial da rede do Metro, que consistia numa linha em Y, com uma extensão de 6,5 quilómetros, percorridos por 24 comboios, e 11 estações, com dois troços distintos, Sete Rios (atualmente Jardim Zoológico) e Entre Campos – Rotunda (Marquês de Pombal) – Restauradores. A estação da Rotunda permitia a correspondência entre os dois troços. As composições eram constituídas por duas carruagens.

 

A 30 de dezembro de 1959, dia da abertura ao público, por volta das três horas da manhã existiam filas intermináveis à porta das estações para utilizar o novo meio de transporte. A afluência foi tanta que algumas estações foram obrigadas, por motivos de segurança, a cancelar temporariamente a venda de bilhetes de forma a que os passageiros não invadissem o cais. Entre as principais atrações estavam as escadas rolantes da estação do Parque.



Lisboa foi a 14ª cidade da Europa e a 25ª no mundo a receber o metropolitano. O Metro de Londres, inaugurado em 1863, foi o pioneiro. No primeiro ano de exploração, o Metropolitano de Lisboa transportou 15,3 milhões de passageiros.

Dada a sua segurança, rapidez e regularidade, este meio de transporte tornou-se num fator determinante para o desenvolvimento da cidade.



A 27 de janeiro de 1963 entra em exploração o troço Rossio – Restauradores, com a inauguração da estação do Rossio.



Em setembro de 1966, o Metropolitano de Lisboa continua a expandir-se com a abertura do troço Rossio- Anjos e são inauguradas ao público mais três estações: Socorro (atualmente Martim Moniz), Intendente e Anjos.



A 18 de junho de 1972, o segundo escalão da primeira fase do Metropolitano de Lisboa é concluído com a inauguração do troço Anjos – Alvalade, o que provoca um acréscimo de passageiros de 35 por cento em relação ao ano anterior. Nessa altura, em que o metro conta com uma extensão de 12 quilómetros e é utilizado por 16 milhões de passageiros, são abertas ao público as estações de Arroios, Alameda, Areeiro, Roma e Alvalade, todas dotadas de um cais de embarque com 70 metros de comprimento.
Pós-25 de Abril
Em junho de 1975 o Metropolitano de Lisboa é nacionalizado, tendo sido gerido até à sua restruturação por uma Comissão Administrativa nomeada por resolução do Conselho de Ministros. A 1 de setembro inicia-se a exploração de composições com quatro carruagens.

Em dezembro de 1978, o Metropolitano da capital passa a empresa pública, sendo publicados novos estatutos. A empresa a chamar-se-á Metropolitano de Lisboa E.P. e a Comissão Administrativa, nomeada aquando da nacionalização, mantém-se em vigor. No mesmo ano, a estação de Picoas passa a receber comboios com quatro carruagens.



Em 1979, ano em que celebra 20 anos de exploração, o Metro de Lisboa ultrapassa a meta dos 100 milhões de passageiros. Em março chega a vez de a estação do Campo Pequeno passar a receber composições com quatro carruagens.

A 30 de novembro de 1982 todas as estações existentes passaram a receber composições com quatro carruagens. As obras de prolongamento da extensão das naves e dos cais das estações, inicialmente preparadas para comboios com duas carruagens, foram realizadas sem necessidade de interromper a circulação.



Em 1984, ano em que celebra os 25 anos, o Metropolitano de Lisboa coloca em circulação a segunda geração de material circulante, com a introdução da série ML 79.

 

Dezasseis anos depois da última inauguração, em outubro de 1988 entram em exploração dois novos troços da rede: Sete Rios – Colégio Militar/Luz e Entre Campos – Cidade Universitária. A primeira compreendendo as estações Laranjeiras, Alto dos Moinhos e Colégio Militar/Luz e a segunda a estação da Cidade Universitária. Estas estações foram as primeiras a ser construídas de raiz com um cais de embarque com 105 metros de comprimento, que possibilitava a paragem de comboios com seis carruagens. O metro passa a ter uma extensão de 15,7 quilómetros e 24 estações, transporta 136 milhões de pessoas em 132 comboios.



Em 1990 é aprovado o Plano de Expansão da Rede do Metropolitano de Lisboa e no mesmo ano é instalado na rede do metro um sistema de radiocomunicações entre a Central de Movimentos e todos os comboios na linha.



Em 1991 foi apresentado o protótipo da primeira série ML90, constituído por duas unidades triplas (motora-reboque-motora) de seis carruagens.


A 3 de abril de 1993 são inaugurados mais 3,2 quilómetros da rede e entram em exploração duas novas extensões, Cidade Universitária – Campo Grande e Alvalade – Campo Grande. A estação do Campo Grande, que está inserida no complexo de viadutos do Campo Grande, constitui a primeira estação elevada da rede e a segunda estação de correspondência do Metro de Lisboa. No mesmo mês entram em exploração duas unidades triplas ML90, com indicador de destino digital.



Em 1994, a estação do Parque é submetida a uma valorização estética em azulejos e esculturas, através de um projeto internacional da artista plástica Françoise Schein que consiste em inscrever a Declaração Universal dos Direitos do Homem em diversos metros do mundo. No mesmo ano, o Metro, em pareceria com a ACAPO – Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal, instala um sistema piloto de sinalética para pessoas cegas e amblíopes na estação Avenida.



Em julho de 1995 assiste-se à desconexão do Y da estação da Rotunda, obra fundamental no âmbito da reestruturação da rede. São assim criadas duas linhas independentes Azul e Amarela. No início de maio arrancam os trabalhos de expansão da Linha Vermelha (Alameda –Oriente), ligando a Alameda à Expo 98 e à Gare intermodal do Oriente.



Ainda em 1995 são remodeladas as estações de Picoas e Sete Rios e assiste-se a uma renovação total dos fardamentos.



Em 1997 passam a existir duas linhas independentes com correspondências nas estações Rotunda e Campo Grande. Abrem ao público, a 18 de outubro, as extensões Colégio Militar – Pontinha na Linha Azul, com a inauguração das estações da Pontinha e de Carnide. A 13 de julho, é anunciada a decisão de prolongar a Linha Amarela até Odivelas. E a 27 de dezembro a rede do metro chega ao Rato. No mesmo ano, entra em circulação o ML 95, a segunda série deste material circulante.



No final de 1997, para permitir a ligação entre o Rossio – Baixa/Chiado, é interrompido o serviço de exploração entre os Restauradores e Rossio. A 19 de outubro, ocorre um incêndio na estação da Alameda.

Em 1998, a cidade de Lisboa recebe a Expo 98 e o Metropolitano de Lisboa passa a ter quatro linhas, altera os nomes a algumas das suas estações e as linhas deixam de ser designadas por letras e a passam a cores (Azul, Amarela, Verde e Vermelha), com as respetivas alterações sinaléticas.

A 1 de março de 1998, a estação de Palhavã passa a designar-se Praça de Espanha; Rotunda passa a Marquês de Pombal; Sete Rios muda o nome para Jardim Zoológico e Socorro passa a designar-se Martim Moniz.

A exploração do Metro do troço Rossio – Baixa/Chiado – Cais do Sodré, abre a 18 de abril de 1998. Com a inauguração da estação Baixa/Chiado, uma estação dupla, passam a existir três linhas, sendo que de início apenas abriu exploração o cais respeitante à Linha Verde. A outra parte é inaugurada em agosto e passa a permitir a correspondência entre as linhas Azul e Verde.



O ano de 1998 marca uma parte importante da história do Metro de Lisboa, com a inauguração da primeira linha completamente independente desde 1959. A 19 de maio, o metropolitano inaugura a linha Alameda – Oriente e pela primeira vez na história entram em exploração comboios com seis carruagens.



A nova série de material circulante ML97, dotado de intercirculação através de um fole entre as três carruagens é apresentada em 1999. Passam a circular composições de seis carruagens. Na mesma altura entram em funcionamento as instalações do novo Parque de Material e Oficinas (PMOIII), na Pontinha.



No início de 2000 os comboios das linhas Azul e Amarela passam a circular com seis carruagens, oferecendo, alternadamente, comboios de seis e três carruagens . Em julho, o metro recebe a primeira unidade tripla do modelo ML99.



Em novembro de 2002 entra em exploração o troço Campo Grande-Telheiras na linha Verde, a primeira fase para o prolongamento da linha para o Noroeste.

Com a conclusão do processo de implementação do novo Sistema de Acesso às Estações de Rede do Metro, em junho de 2013, todas as estações passam a estar equipadas com canais fechados de entrada e saída, sendo que a abertura é controlada pela apresentação de um título de transporte válido.



Em março de 2004 a Linha Amarela chega a Odivelas, com cinco novas estações, Quinta das Conchas, Lumiar, Ameixoeira, Senhor Roubado e Odivelas. E em maio a Linha Azul chega à Amadora, com a inauguração de duas novas estações, Alfornelos e Amadora-Este. Pela primeira vez na história o metro sai dos limites do concelho de Lisboa. Em outubro, no âmbito do prolongamento da Linha Vermelha, arrancam as obras de construção do túnel entre Alameda e São Sebastião.

Entre 1959 e 2006, o Metro de Lisboa transportou cinco mil milhões de passageiros, o que representa 500 vezes a população de Portugal.



Em dezembro de 2007, entra em exploração o troço Baixa/Chiado – Santa Apolónia da Linha Azul, com a inauguração de duas novas estações, Terreiro do Paço e Santa Apolónia.



O 60.º aniversário de constituição da empresa é celebrado em 2008, ano em que o Metro tem a primeira mulher maquinista.



Em 2009, o Metro comemora os 50 anos do início da exploração. Em agosto, entra em exploração o troço Alameda/São Sebastião da Linha Vermelha, com duas novas estações Saldanha I e São Sebastião II, o que permite a ligação entre todas as linhas e a constituição de uma verdadeira rede de metropolitano: Linha Vermelha com a Linha Azul na estação de São Sebastião e com a Linha Amarela na estação do Saldanha.
As obras de escavação do túnel do Troço Amadora Este – Reboleira, para prolongamento da linha azul, arrancam em março de 2010.



  

Em julho de 2012, entra em exploração o troço Oriente – Aeroporto, na Linha Vermelha com três novas estações: Moscavide, Encarnação e Aeroporto.

Em março de 2013, entra em circulação uma carruagem com uma nova disposição longitudinal dos bancos, ao estilo americano, primeiro protótipo de uma ML 90. 
 
Em 2014, o Metropolitano de Lisboa celebra os 66 anos de existência conceptual e 55 de exploração, com quatro linhas autónomas de 43,2 quilómetros de extensão e 55 estações (seis são estações duplas e de correspondência), das quais Anjos e Intendente, na Linha Verde, são as únicas que não estão preparadas para receber comboios com seis carruagens. O Metropolitano de Lisboa conta com um tráfego superior a 500 mil passageiros a cada dia útil e cerca de 155 milhões por ano.
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