Óscar, um robô-guia de arte criado por alunos de exceção

por Nuno Patrício, Pedro A. Pina - RTP
"Óscar" em frente de uma reprodução do auto retrato de Almada Negreiros Foto: Paulo Torcato/DR

Imagine chegar a um museu e ser conduzido por um robô. Esse robô, que explica as obras de arte, foi construído por alunos do ensino vocacional, muitos deles com elevadas taxas de reprovação escolar, agora motivados pela robótica.

São todos jovens que não obtiveram boas notas no ensino normal e acabaram por ser colocados na área vocacional.

Confrontados com um desafio de grau elevado, construíram um robô que tem por função guiar-nos num museu e explicar-nos quem são os autores das peças de arte.

Estes alunos da Escola Secundária da Portela, com uma média de reprovações a rondar os três a quatro anos letivos no ensino normal, integram a iniciativa educativa "O Robot Ajuda!".



Agora motivados pela diferente forma de ensino, criam, aprendem e desenvolvem projetos que dificilmente seriam uma realidade se continuassem no ensino corrente.

Confrontado com os maus resultados escolares, Paulo Torcato, professor de Matemática e de Informática, decidiu integrar o grupo de docentes que dá aulas a alunos com necessidades educativas. Porque "para alunos diferentes a forma de ensinar tem de ser diferente".O que é "O Robot Ajuda!"
O projeto "O Robot Ajuda!" nasce da necessidade de ajudar  "alunos diferentes", que muitas vezes não encontram motivação no ensino dito normal.

Com este projeto, encabeçado pelo professor Paulo Torcato, é possível ensinar alunos desmotivados e com elevadas taxas de reprovação matérias como Física, Matemática, Ciências, Português e outras ainda mais exigentes, como programação e robótica, dentro de um contexto mais acessível e direto.

Como o próprio nome sugere, a ajuda pressupõe todo um conjunto de ferramentas educativas no ensino vocacional.



"A primeira coisa que temos de dizer a estes alunos é que eles não são melhores, nem piores, são diferentes. E como alunos diferentes vão aprender de uma maneira diferente e fora da ordem habitual", explica Paulo Torcato.

Em conversa com o site da RTP, o professor refere que, sem esta forma construtiva de ver o ensino, este tipo de alunos certamente nunca chegaria, no final do ciclo escolar, à conclusão letiva obrigatória.



"A ideia inicial é que eles tenham que procurar problemas no dia-a-dia que tivessem como solução a construção de um robô e teriam de fazer todo o processo, desde o caderno de encargos ao protótipo final e ao cenário onde esse protótipo executaria as funções para resolver o dito problema".

Paulo Torcato diz ainda que "este projeto serve como catalisador da vontade de estudar e de fazerem projetos com robôs e ao mesmo tempo, ir a outras escolas dar workshops a professores e colegas a mostrar aquilo que aprenderam".

"Nos trabalhamos com projetos interdisciplinares e que envolvem todas as disciplinas. Cada disciplina contribui com algo para esse projeto, e eles acabam por apreender de tudo um bocadinho, sem aquela força, aquela vontade obrigada de aprender", explica o professor.

Quantos são e como são feitos os robôs
O projeto "O Robot Ajuda!" destina-se a alunos do 3.º Ciclo e do Ensino Secundário, mas também a professores que queiram integrar esta nova metodologia de ensino.

Utilizando robôs como material pedagógico, o objetivo é aproveitar a curiosidade dos alunos, dirigindo-a para a descoberta e a apreensão de conceitos nas áreas da Física e da Química, Matemática e Informática.

Com a utilização de atividades experimentais, por alunos e para alunos, consegue-se estimular os intervenientes, promovendo o gosto pela ciência e a autoaprendizagem.

A ideia por detrás da construção destes robôs - neste caso, Lego Mindstorms - é captar jovens para atividades na área das ciências, em particular para as engenharias e tecnologias de informação. Colocando os alunos na construção e programação de protótipos para resolução de problemas-tipo.

No Project Based Learning esta lógica é revertida e a atividade é iniciada com o desafio de atingir o produto ou solução visionada, o que proporciona um contexto e um motivo estimulante para que ocorra a aprendizagem por descoberta.

Neste contexto é dado espaço para que cada aluno desenvolva escolhas e para que as suas particularidades sejam individualmente consideradas e repercutidas na formação, ao mesmo tempo que se aumenta o sentido de corresponsabilidade.

Desde 2008, ano em que foi constituído o núcleo de Robótica Educativa, a ideia da construção de robôs por alunos foi ficando cada vez mais sólida. Um sonho tornado realidade em 2013 com o projeto "O Robot Ajuda!".

Desde então já se projetou, programou e criou cinco robôs, (ProtectorBot; UpstairsBot; Dr.Bot; RecycleBot), alguns já premiados e sendo o último projeto um robô-guia - GuideBot - rebatizado de Óscar, que tem por missão guiar-nos e informar-nos sobre obras de arte e os seus autores, num contexto museológico.
"Eric", o primeiro robô museológico
Um dos primeiros engenhos "ditos" robóticos foi construído por volta de 400-350 a.C. pelo grego Arquitas de Tarento, ao construir e recriar um pássaro.

Este matemático, também conhecido como o "pai da engenharia mecânica", construiu um pássaro artificial, de madeira, e utilizou vapor para alimentar os movimentos do robô.

Este protótipo foi suspenso e, segundo relatos presentes em alguns manuscritos, "voou" cerca de 200 metros até esgotar o combustível.

Com o avançar dos tempos, surgiram várias máquinas que, embora não lhes chamemos robôs, não são mais do que um conjunto de mecanismos que, com ordens diretas ou pré-estabelecidas, cumprem determinadas funções autonomamente.

Mas o sonho do homem moderno sempre foi construir um robô à sua imagem e semelhança.

Em 1928, na abertura da exposição da Society Model Engineers, em Londres, foi apresentado o Eric - o primeiro robô de alumínio, com 45 quilos e aparência humanoide.



O autómato foi construído pelo capitão e veterano de guerra William Richards e pelo engenheiro e construtor de aeronaves Alan Reffell, no ínicio da decada de 20 do século passado.

A palavra robô foi introduzida pela primeira vez no léxico britânico como R.U.R. (Rossum’s Universal Robots), derivada da palavra original Rossumovi Univerzální Roboti, criada pelo checo Karel Čapek. Letras que estão visiveis no peito metálico do Eric.


Esquema original do funcionamento mecânico do robô e o capitão William Richards junto do Eric. Créditos: Illustrated London Press


Nesta apresentação, no Royal Horticultural Hall, à qual acorreram milhares de curiosos, o Eric apresentou-se num pedestal e executou simples manobras mecânicas. Curvou-se, mexeu os braços e após alguns minutos exibiu algumas luzes no rosto e cabeça.


Exibição do Eric na Society of Model Engineers, Londres, 1928. Créditos: Museu de Ciência Britânico


Após esta primeira aparição, o primeiro robô da Grã-Bretanha, Eric, andou em digressão mundial, sendo posteriormente armazenado e totalmente esquecido nos armazéns do Science Museum.

Recentemente, quando procuravam material para uma nova exposição, vários trabalhadores do museu britânico deram com os restos do Eric.

O robô estava desmanchado e sem grande parte das peças originais, mas isso não desmotivou o museu, que decidiu, através de uma campanha de crowdfunding na Kickstartet, pedir ajuda monetária para ressuscitar Eric. Para isso acontecer o Science Museum tem de conseguir juntar 35 mil libras.

O objetivo do Museu de Ciências do Reino Unido, para além de reconstruir o robô, é voltar a realizar uma digressão internacional e assim mostrar o primeiro robô museológico, a par de uma exposição de robôs mais modernos, que vai estar patente a partir de 8 de fevereiro de 2017.

Para mais informações sobre esta iniciativa, consultar sciencemuseum.org.uk/robots.
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