Ovos têm "história" na casca, mas portugueses desconhecem códigos
Os ovos que os portugueses comem têm gravado na casca a sua "história", e muito em breve poderão ter a data de validade, anunciou a associação de produtores, que vai lançar uma campanha para esclarecer os consumidores.
A Associação Nacional de Avicultores Produtores de Ovos (ANAPO) explicou hoje em conferência de imprensa que a legislação comunitária obriga desde Janeiro que cada ovo tenha uma espécie de "bilhete de identidade", embora os consumidores desconheçam os códigos que surgem impressos na casca.
A UE, explicou à Agência Lusa o secretário-geral da ANAPO, Amândio Santos, pediu um estudo para verificar a aplicação da lei, concluindo que há países como a Espanha ou a Bélgica que ainda não estão a cumpri-la, sendo Portugal um dos que acatou desde Janeiro as novas normas.
"A Comissão Europeia quer que os países membros esclareçam o consumidor, para que este saiba que quando compra um ovo tem várias opções e essas opções estão gravadas num código", disse Amândio Santos.
Qualquer ovo, explicou, tem um código com um número que varia entre zero e três.
O "zero" significa que se trata de um ovo de produção biológica, o "um" que é proveniente da chamada "galinha do campo", o "dois" de produção intensiva no solo e o "três" de produção intensiva em gaiola (os mais comuns).
Depois desse número, cada ovo tem a designação do país de origem em duas letras (PT, no caso de Portugal), seguindo-se mais um número, entre um e sete, que indica a região do país, e finalmente mais três dígitos que identificam o produtor.
Embora o prazo de validade apenas seja obrigatório na embalagem, a ANAPO admite que a curto prazo cada ovo tenha mais essa informação, disse o responsável.
"Com este código, pretende-se esclarecer os consumidores do tipo de ovos que estão a consumir, porque assim podem eleger por exemplo o modo de produção que pretendem, se querem um ovo de produção biológica sabem que o primeiro número tem de ser um zero", exemplificou Amândio Santos.
A ANAPO vai iniciar em breve uma campanha de esclarecimento do consumidor, com anúncios na imprensa e na televisão, e terá um site na Internet com todas as informações sobre os ovos, disse.
"A grande aposta será nos pontos de venda, com distribuição de folhetos, e também pensamos em distribuir informação escrita dentro das embalagens", explicou o responsável.
A campanha de esclarecimento deverá prolongar-se por pelo menos seis meses.
A 08 de Outubro a ANAPO vai comemorar o Dia Mundial do Ovo, com acções em escolas para "desmistificar o conceito negativo que muitos portugueses têm do ovo".
Para isso, a ANAPO está a criar um Comité Científico, composto por especialistas, que irão explicar que o ovo não faz mal à saúde, como muitos julgam.
A criação da Confraria do Ovo é também um objectivo da associação.
Segundo as últimas estatísticas (2003), cada português consome em média três ovos por semana, 168 por ano, quando a média na União Europeia (os 15 países do ano passado) era de 212.
Na Espanha a média está nos 218 e em Itália em 223.
Em Portugal, dados provisórios deste ano apontam para menos de 150 milhões de ovos produzidos por mês, contra 972 milhões em Espanha.
A quebra no consumo que se verifica há seis anos, segundo António Afoito, presidente da ANAPO, teve como um dos principais motivos a ideia generalizada de que o ovo, nomeadamente a gema, provoca o aumento do colesterol.
Nuno Nunes, da direcção da Associação Portuguesa de Nutricionistas e médico nos Hospital de S. Bernardo (Setúbal), admitiu recentemente à Lusa que se fazia essa relação ovo/colesterol, mas garantiu que está hoje provado que o colesterol do ovo "não é afinal tão mau como se julgava".
Nuno Nunes disse mesmo que os portugueses podem até comer um ovo por dia, que não lhe fará mal, desde que, salvaguardou, optem por ovos escalfados ou cozidos.
O ovo, disse, é "um excelente alimento e fonte de proteínas" e de fácil digestão, além de ter vitaminas e minerais.
Rico em proteínas, vitaminas A, D, E, K e B, minerais (ferro, fósforo, manganês, potássio e sódio), o ovo tem também zinco, e selénio.
Cada um custa, em média, cinco cêntimos.
Em Portugal existem cerca de sete milhões de galinhas, distribuídas por 120 explorações, que põem uma média de cinco milhões de ovos por dia, incluindo fins-de-semana.
FP.
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