Pai e avó de Jéssica acusam mãe de dificultar o contacto com a menina

por Lusa

O pai e a avó paterna da menina de 3 anos que morreu em 20 de junho do ano passado em Setúbal, vítima de maus-tratos, acusaram hoje a progenitora de lhes dificultar o contacto com a criança.

Separado da mãe de Jéssica desde outubro de 2021, o pai da menina, Alexandrino Biscaia, disse hoje no tribunal de Setúbal que, depois da separação, só terá estado dois fins de semana com a filha, em janeiro e fevereiro de 2022, antes de emigrar para os Países Baixos.

"Depois da separação, a mãe [Inês Santos] não permitia que eu soubesse onde estava a residir com a menina e só a voltei a ver em janeiro de 2022", disse Alexandrino Biscaia.

Ouvido como testemunha pelo coletivo do Tribunal de Setúbal, Alexandrino Biscaia admitiu que falou várias vezes com a filha por chamada telefónica ou por vídeo chamada quando já estava nos Países Baixos, mas garantiu que, a partir de "março de 2022", não voltou a falar com a pequena Jéssica.

"Eu confiava, mas era sempre engrupido pelas mentiras da Inês que dizia que a Jéssica estava doente, ou que estava no infantário ou na colónia de férias", disse Alexandrino Biscaia, admitindo que se sentia culpado pela morta da filha, por ter confiado na ex-companheira e mãe de Jéssica.

Questionado pelo presidente do coletivo de juízes sobre eventuais sinais de maus-tratos no ânus da menina, nas últimas vezes em que esteve com a filha, em janeiro e fevereiro de 2022, Alexandrino Biscaia disse que não tinha visto nada de estranho.

De acordo com o despacho de acusação, a menina não só terá sido vítima de maus-tratos muito violentos em diversas zonas do corpo, como também apresentava lesões no ânus, que terão sido provocadas por ter sido usada como correio de droga.

A avó paterna de Jéssica, Maria Lino, que também foi hoje ouvida como testemunha, afirmou em tribunal que já não via a menina desde sete ou oito meses antes da morte da criança e que, da última vez que a viu, foi por um curto período de tempo, de menos de uma hora.

Maria Lino disse ainda ao tribunal que nunca lhe foi fácil ver a neta, porque o filho, Alexandrino Biscaia (pai da Jéssica), e a mãe, Inês Sanches, estavam quase sempre incomunicáveis, pelo que tinha de vir de Lisboa a Setúbal para conseguir estar com o filho e com a neta.

Hoje, foram também ouvidas pelo Tribunal de Setúbal mais duas testemunhas, uma delas animadora sociocultural que também vendia roupa a Inês Sanches e que disse ter ficado impressionada com a abertura das nádegas de Jéssica, em 12 de junho de 2022, quando esteve com a menina num parque infantil.

Segundo a acusação, a menina Jéssica ficou retida durante cinco dias em casa de Ana Pinto, arguida no processo, para garantir o pagamento de uma dívida da mãe por atos de bruxaria.

A mãe, Inês Sanches, está acusada dos crimes de homicídio qualificado e de ofensas à integridade física qualificada, por omissão.

Ana Pinto, o marido, Justo Ribeiro Montes, e a filha, Esmeralda Pinto Montes, estão acusados de homicídio qualificado consumado, rapto, rapto agravado e coação agravada.

Estes três arguidos e Eduardo Montes, filho de Ana Pinto e Justo Ribeiro Montes, estão ainda acusados de um crime de violação agravado e de um crime de tráfico de estupefacientes agravado.

O julgamento prossegue a partir das 09:15 da próxima quinta-feira, dia 15 de junho, no Tribunal de Setúbal.

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